O ano era 2005, eu tinha acabado de assumir a Presidência da ADEMI/Al, o mercado imobiliário ainda não tinha se recuperado da crise dos anos 90 e ainda não tinha a pujança que passou a ter nos anos seguintes.
Se esse era o cenário no Brasil, vocês imaginem a situação na pequena e pobre Alagoas, estado com uma das maiores concentrações de renda e uma das menores classes médias do País. As empresas sofriam com a demanda reduzida e o assunto dominava as discussões nas reuniões da entidade.
Lembro bem quando eu falei que esse era um típico problema de oferta e demanda e que se não tínhamos como controlar a oferta, deveríamos procurar uma maneira de aumentar a demanda.
Em paralelo, a baixa pujança do setor imobiliário se refletia nas contas da ADEMI. A entidade tinha crescido muito nos anos anteriores com gestões de primeira linha, mas a necessidade de recursos estava sempre presente.
Como pano de fundo disso tudo, estava havendo um boom nos investimentos europeus no Nordeste brasileiro naqueles anos. Esse boom ainda não havia chegado tão forte a Alagoas, pois não tínhamos conexões aéreas com a Europa, mas o fluxo de compradores de segunda residência na Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco era brutal e estava mudando a cara do mercado imobiliário nesses estados. Vendo tudo isso acontecer à distância, claro que dava uma certa inveja e nos perguntávamos como poderíamos nos juntar a essa festa.
Para quem não viveu aqueles anos dourados, esse boom aconteceu devido a três fatores principais. Em primeiro lugar o câmbio depreciado, que tornou muito barato os europeus virem para o Nordeste. Isso gerou o segundo fator, que foi a criação de vôos pela TAP, companhia aérea portuguesa, para os estados acima mencionados.
Com câmbio valorizado e vôos diretos de seis a sete horas de duração entre Lisboa e o Nordeste, os turistas chegaram aos montes, e aqui eles encontraram o terceiro motivo para o boom: preços do mercado imobiliário historicamente baixos, mesmo para os padrões locais, devido à crise gerada pelo Plano Real, que gerou a quebra de inúmeras incorporadoras e da qual o setor ainda não havia se recuperado.
Essa mistura gerou uma explosão na aquisição de imóveis por estrangeiros no Nordeste. Os preços eram ridículos para os europeus e logo a notícia se espalhou, gerando uma espiral de investimentos nunca antes vista na região. O sonho de ter um terreno, casa ou apartamento no paradisíaco nordeste brasileiro ficou à mão dos europeus e eles aproveitaram a oportunidade.
Foi tendo esse cenário como pano de fundo - necessidade de aumentar a demanda para o mercado imobiliário alagoano, gerar receita para a ADEMI e o boom de investimentos estrangeiros em outros estados nordestinos, que começamos a pensar no que poderia ser feito.
Foi aí que veio a idéia de realizar um evento. Começamos a formata-lo e aos poucos foi ficando claro que deveríamos foca-lo em investimentos imobiliários e turísticos. Lembro bem da reunião na sede da ADEMI onde eu, Paulo Malgueiro, Peixoto Accyoli e Marco Fireman, entre outros que já não me recordo, estávamos discutindo o evento e o Marco Fireman deu a idéia de trazermos algum palestrante português e com isso chamar o evento de internacional.
A partir daí começamos a trabalhar para o evento, que aos poucos foi ganhando força, tanto que tivemos que adiar a sua data, que inicialmente estava previsto para o segundo semestre de 2005, devido à musculatura que estava tomando.
Eu com a minha mania de estudar e de pensar grande, comecei a pesquisar quem eram os principais players internacionais e os que estavam mais atuantes no Nordeste. Sem timidez, começamos a entrar em contato com eles e formatar uma programação de alto nível.
Uma pessoa decisiva não só para o sucesso do NORDESTE INVEST, como da ADIT, foi o Peixoto Accyoli, hoje CEO da REMAX Brasil. Apesar de morarmos na pequena Maceió, de sermos da mesma faixa etária e de termos vários conhecidos em comum, nunca fomos amigos.
Quando assumi a ADEMI, Peixoto tinha saído da gestão à frente do maior grupo de comunicação do estado e contratamos a sua empresa para realizar o Prêmio Master da ADEMI, que foi um sucesso retumbante, elevando consideravelmente o resultado do evento.
Daí foi um passo para que o contratássemos para também ficar à frente desse novo evento que nascia, o NORDESTE INVEST. E essa decisão mudou a minha vida, a vida dele e posso dizer com orgulho que teve um grande impacto nos mercados imobiliário e turístico brasileiros.
Peixoto gosta de brincar que a nossa dupla era o Pink e o Cérebro, onde eu tinha as idéias e planejava e ele fazia acontecer. Mas claro que não era assim. Discutíamos tudo, pensávamos grande, muito grande e de alguma maneira conseguíamos transformar nossos delírios em realidade. A gente brincava de O feitiço de Áquila, com ele indo dormir às 4h30 da manhã e eu acordando nesse horário, tendo havido vários momentos onde trocávamos e-mails enquanto um acordava e o outro ia dormir.
Começamos então a visitar Portugal, onde fomos muito bem recebidos e onde fizemos muitos amigos. Lembro que uma conquista que comemoramos muito à época foi a realização da parceria com o Salão Imobiliário de Lisboa - SIL, maior evento imobiliário de Portugal. Também me recordo do nosso pequeno e “desmobiliado” stand no evento. Foi quando participamos do evento de gala do Salão Imobiliário de Lisboa e, coincidência, sentamos ao lado do diretor da revista, que não só fechou a parceria, como se transformou em um amigo.
A ADEMI esteve presente ao evento com uma delegação de empresários alagoanos e nós começamos a conhecer os outros empresários nordestinos e de São Paulo que também estavam atuando ou querendo entender o que estava acontecendo. Boa parte deles veio a fazer parte da história da ADIT.
Uma dessas pessoas era o Caio Calfat, hoje Presidente da ADIT, que foi uma das primeiras pessoas que visitei quando tivemos a idéia do evento. Nos encontramos em seu escritório em São Paulo em um dia que passei muito frio porque não tinha levado agasalhos.
Apesar do stress e inseguranças típicos de fazer um evento grande e inédito em um local que não era óbvio, aos poucos o evento foi tomando corpo e as confirmações de peso foram chegando. Acredito que nosso grande mérito foi catalisar todo um movimento que estava acontecendo. O mercado estava maduro para algo assim. Era uma bandeira que ninguém estava segurando. Acabamos usando com frequência essa estratégia de levantar a bandeira de segmentos que não estavam sendo representados e que tinham grande potencial. Isso aconteceu no futuro com os setores de comunidades planejadas, timeshare e multipropriedade, direito imobiliário e investimentos imobiliários.
É claro que nessa caminhada pela realização do evento nem tudo foram flores. Além da dificuldade para viabilizar financeiramente um evento com essa magnitude, haviam críticas dentro da nossa própria casa. Enquanto alguns sugeriam que eu e Peixoto estávamos fazendo turismo à custa da entidade, outros questionavam os grandes valores envolvidos, insinuando que talvez tivéssemos outros interesses por trás. Mas sinceramente isso nunca me afetou. Tinha tanta certeza da nossa visão, do que estávamos fazendo e do impacto que haveria que nunca nem achei tempo para me aborrecer com isso.
Peixoto me lembrou de como isso estava afetando ele e ele veio falar comigo e eu disse que ele não se preocupasse com isso. O importante seria o resultado. Se tudo desse certo, aquelas mesmas pessoas iriam nos elogiar. E eu tinha convicção de que daria certo. No final, foi exatamente isso o que aconteceu.
Finalmente chegou o grande dia, e o esforço valeu à pena. O Encontro Internacional de Investimentos Turísticos e Imobiliários no Nordeste Brasileiro - Nordeste Invest 2006 aconteceu entre os dias 15 e 17 de março de 2006 no Centro de Convenções de Maceió e contou com a presença de 300 participantes de todo o Brasil e do exterior.
O evento contou com um seminário internacional, um salão de exposições com stands das empresas e uma novidade: a rodada de negócios. Nela, colocávamos frente a frente investidores internacionais e empresários brasileiros em reuniões pré-agendadas de 30 minutos de duração de acordo com os interesses das partes.
O seminário, por sua vez, teve um alto nível de participantes, dando rosto àqueles novos atores que estavam transformando o Nordeste e com discussões de temas até então inéditos no País.
Realizamos ações de network e de geração de negócio, como um jantar no Palácio do Governador e visitas a áreas e empreendimentos.
Já durante o evento era nítida a sensação de que uma chave tinha sido virada e que um novo momento se descortinava para os setores imobiliário e turístico na região. Ficou claro que precisávamos criar uma entidade para organizar todo esse movimento que estava acontecendo e canalizar toda energia e recursos que estavam dispersos. No próximo artigo irei contar como a semente da ADIT germinou a partir do sucesso do NORDESTE INVEST.
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