Depois no enorme sucesso da primeira edição do NORDESTE INVEST em Maceió, ficou claro que precisávamos constituir uma entidade que catalisasse todo o movimento de investimentos estrangeiros que estava acontecendo nos setores imobiliário e turístico do Nordeste.
Passei a entrar em contato com os presidentes de ADEMIs e SINDUSCONS da região. Alguns eu já conhecia e eram velhos amigos. Outros eu ainda não conhecia ou conhecia pouco, tendo em vista que as eleições geralmente ocorrem de dois em dois anos. Mas nesses casos, sempre tínhamos vários amigos em comum, o que facilitou os contatos.
A maioria recebeu com entusiasmo e apoio a iniciativa e geralmente eles indicavam para representar as entidades na ADIT algum membro de suas diretorias que já era responsável pelo mercado internacional ou que tinha interesse empresarial nele.
Lembro que o pessoal de Recife, apesar do apoio de primeira hora, não acreditava na viabilização financeira da nova entidade, enquanto que o pessoal da Bahia já tinha uma musculatura e relevância grandes no trato com o mercado internacional, e um mercado local pujante, e demorou a perceber o valor agregado em se unir aos demais estados nordestinos.
E o fato engraçado também na Bahia foi que logo se desenvolveu um forte ciúme de uma importante liderança local em relação a mim e ao próprio diretor indicado por ele para ADIT, pois ele achava que queríamos ocupar espaço e até teríamos ambições políticas. Naquela época eu convivia o tempo todo com Governadores, Prefeitos, Secretários e Ministros e essa liderança baiana não conseguia lidar com isso, especialmente quando esses contatos envolviam as autoridades do seu Estado.
Foi uma situação delicada com a qual tivemos que lidar por alguns anos, apesar de nosso foco e atuação nunca terem residido em assuntos locais, mas apenas regionais e internacionais. Mal sabia ele que a última coisa no mundo que eu queria era ser político. Não gosto do ambiente político, venho de família política e poderia ter sido prefeito com 23 anos de idade e não quis.
Tem até um folclore familiar sobre isso. Quando pedi a minha esposa em casamento, ela só colocou uma condição: a de que eu nunca seria político. Aceitei na hora, afinal de contas era tudo o que eu não queria para a minha vida. Mas tive a presença de espírito de colocar uma exceção: para Senador poderia. Ela aceitou a condição, pois obviamente eu nunca seria Senador da República.
Porém, durante alguns anos, entre 2005 e 2013, ela começou a ficar receosa, pois a hipótese passou a não ser tão absurda. Vários amigos meus de Alagoas e de outros estados, confundindo a minha vocação em me doar pelos outros institucionalmente com vocação para política, insistiam para que eu considerasse entrar para a política.
O tempo passou, vieram as turbulências empresariais, os amigos perceberam que minha posição era para valer e o meu então cunhado também acabou se elegendo para o Senado e aí a conversa acabou. Por hora.
Voltando à constituição da ADIT, também ficou claro que as entidades não tinham foco no mercado internacional. Em cada entidade haviam 3, 4 ou 5 empresas interessadas no assunto. E a pauta das entidades com os inúmeros problemas locais era enorme e as absorvia, não dando condições delas se dedicarem ao assunto investimentos internacionais com a energia necessária.
Daí veio a percepção de que se juntássemos essas empresas em uma só entidade teríamos entre quarenta e cinquenta empresas que juntas seriam fortes e com um foco bem definido. E foi isso o que fizemos ao criar a ADIT.
Mas se fossemos medir a possibilidade de sucesso da nascente entidade pela sua reunião de fundação em junho de 2006, as perspectivas eram sombrias. Estavam apresentes apenas oito pessoas no Hotel Ritz Lagoa da anta em Maceió e alguns deles sem entender bem o que estavam fazendo ali. Passamos o dia reunidos discutindo o estatuto e ao final tínhamos um documento que espelhava o que representávamos e o que nos dava as diretrizes para onde queríamos chegar.
Um ponto que lembro bem é da minha insistência para que o nome da entidade não representasse uma associação de empresas ou empresários, mas uma missão mais ampla. Foi daí que surgiu o nome da Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Nordeste – ADIT Nordeste.
Também discutimos muito os critérios de seleção de empresas para aderir à ADIT. Sempre com o foco de sermos seletivos e de termos empresas sérias como associadas, alguns defendiam que deveríamos cobrar vários tipos de documentos e certidões negativas. No final, chegamos à conclusão que a idoneidade de uma empresa ou pessoa não se dava por uma certidão negativas de tributos e que o melhor caminho seria o da pura e simples indicação.
Chamo isso de teoria dos círculos concêntricos e não me perguntem de onde veio esse nome. Visualizo ele como sendo uma pedra jogada na água e que gera aquelas ondinhas. O conceito era que deveríamos escolher com rigor os primeiros associados e a partir daí qualquer novo associado só poderia ser aceito na entidade mediante indicação formal de quem já era membro e aprovação do Conselho. Funcionou perfeitamente e assim conseguimos muito rapidamente conquistar a imagem de entidade séria e de credibilidade. Com um ano de atuação parecia que já erámos uma entidade tradicional.
Uma outra inovação da ADIT foi a junção, pela primeira vez no Brasil, dos setores imobiliário e turístico em uma mesma entidade. Esses dois setores não se comunicavam antes da ADIT. Existiam as entidades do imobiliário, como CBIC, SECOVI, ADEMIs, SINDUSCONs, e as entidades do turismo, como ABIH, FOHB e Brasil Resorts. Além disso, também fomos pioneiros no foco no desenvolvimento e investimentos hoteleiros e não na operação hoteleira, que já era muito bem representada por essas entidades. Mesmo no exterior nunca encontrei uma entidade com o foco e formato da ADIT.
No início uma das grandes prioridades nossas era criar uma entidade com o conceito “One stop shop” onde os investidores internacionais encontrariam em um só local empresas sérias em vários ramos de atuação. Se eles precisassem de advogado, arquiteto, corretor, construtora, rede hoteleira, incorporador, ou até fazer contato com alguma autoridade pública, ele encontrava isso na ADIT, seja em Sergipe, Bahia, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Alagoas ou Paraíba. Os únicos estados que nunca conseguimos envolver foram o Piauí e o Maranhão, até por conta do pouco fluxo turístico que recebiam.
A criação de um canal por onde os estrangeiros tivessem contato com o Brasil e pudessem conhecer empresas sérias era necessário porque eram comuns os casos de gringos que sofriam golpes na região. Eles compravam terrenos que não poderiam ser objeto de desenvolvimento imobiliário devido a questões ambientais ou até que não pertenciam a quem estava vendendo. Além disso, o cipoal de regras e legislações brasileiras era um campo aberto a entraves, decepções e prejuízos.
Mas rapidamente percebemos que não eram somente os estrangeiros que precisavam ser protegidos. Entre os milhares de europeus que apareciam por aqui, também haviam muitos aventureiros. Qualquer italiano, espanhol, português, norueguês ou inglês que chegasse no Nordeste afirmando que era um investidor era recebido por secretários de estado e tinham tapete estendido nas empresas.
O problema era que a grande maioria deles não eram investidores, mas corretores ou pequenos investidores pessoa física sem potencial, ou até alguns realmente trambiqueiros. E os casos de brasileiros que começaram a sofrer golpes ou simplesmente perceberam que estavam perdendo tempo com quem não devia aumentaram consideravelmente.
Nós estávamos desprotegidos e a ADIT começou a desempenhar um relevante papel nesse sentido. Rapidamente desenvolvemos uma grande rede de relacionamento na Europa e sempre que algum empresário ou autoridade queria obter informação sobre determinado “investidor” nós erámos acionados para “puxar a ficha” dele. Tenho certeza de que poupamos muito tempo e muitos prejuízos a muita gente durante esse período.
Uma coisa que funcionou muito bem desde o início foi a nossa tese de que juntos seríamos mais fortes. Se antes os estados nordestinos iam para as feiras internacionais de maneira individual e descoordenada, agora havia uma entidade que reunia em um conceito de “One stop shop” toda a região.
A comunicação e o marketing internacional também passaram a ser feitos com uma linguagem única. Fizemos folhetos e vídeos sobre o Nordeste como destino de investimentos imobiliários e turísticos. Fizemos guias e manuais de como investir por aqui. E passamos a participar das principais feiras e eventos internacionais do setor, representando a região, otimizando as despesas e possibilitando a participação de dezenas de empresários que não teriam condição de participar por conta própria.
Para que isso tudo acontecesse, contamos com duas grandes parcerias: o Ministério do Turismo e a Apex.
Lembro como se fosse hoje quando alguns de nós, diretores da recém-criada ADIT, estava em Brasília e sobrou um tempo na agenda. Eu já tinha o plano de abordar a Apex e mencionei isso. O Roberto Carlos Lopes ligou então para um amigo dele da Bahia que estava à frente da entidade nacional de sisal e que possuía um projeto com a Apex. Na mesma hora ele ligou para a Apex, que prontamente se dispôs a nos receber. Lá fomos nós e o resto é história.
Tivemos uma grande parceria com a Apex. Instituição séria e profissional, ela é um verdadeiro oásis no serviço público brasileiro. Assinamos um convênio com ela com o objetivo de atrair investimentos para o Nordeste brasileiro. Tínhamos dois instrumentos principais: os projetos Comprador e Imagem. O objetivo do Projeto Comprador era atrair os investidores internacionais, enquanto o Projeto Imagem tinha como razão de ser divulgar o Nordeste no exterior.
Ao longo dos anos trouxemos centenas de investidores e jornalistas para o Brasil. Eu e a ADIT erámos fontes frequentes de jornais como Financial Times, New York Times, The Times, El País e Expresso de Portugal, entre inúmeros outros e sem considerar aqui a mídia especializada.
Tem uma cena hilária em um evento em Maceió da qual sempre me lembro quando os Governadores e Ministros se dirigiram para a entrevista coletiva esperando encontrar os jornais locais, do Nordeste e, no máximo, os grandes jornais de São Paulo. Eles não conseguiam acreditar quando os jornalistas começaram a fazer as perguntas e se identificar como sendo do The Times de Londres, Financial Times e New York Times. Encontrar com veículos desse naipe em Maceió era a última coisa que eles esperavam. Nunca vou esquecer a cara deles.
O Ministério do Turismo também nos ajudou bastante e durante alguns anos tivemos uma forte parceria com eles. Estávamos sempre juntos rodando o mundo. Participamos e organizamos diversas feiras e eventos. Fiz grandes amigos lá e sempre estávamos juntos em todas as iniciativas. Como o passar do tempo e a mudanças nas gestões do Ministério acabamos nos afastando.
Um dos pontos cruciais para isso foi a minha falta de disposição para ceder o meu CPF para ser responsável pelos convênios. Houve um caso específico onde o plano de trabalho foi aprovado, executado exatamente como autorizado, a prestação de contas aprovada pelo setor técnico do Ministério, para depois ser parcialmente rejeitado pelo setor financeiro de lá porque, pasmem, nós não poderíamos ter pago o próprio stand do Ministério do Turismo no evento. Depois disso, entendi que o risco que a entidade e eu na pessoa física corríamos não justificavam os benefícios. Foi uma pena porque fizemos muitas coisas juntas que ajudaram o Nordeste.
Da mesma forma, tivemos o apoio do Itamaraty. Naqueles tempos se alguém chegasse em alguma embaixada do Brasil no exterior e quisesse investir em real estate ou turismo no Brasil era o nosso contato que eles davam. Também fizemos vários eventos nas embaixadas do Brasil, em especial em Londres, Portugal e Espanha.
Essa estratégia do setor privado e do poder público andarem juntos foi muito vitoriosa. Quando o poder público vai sozinho divulgar um destino, geralmente não são gerados negócios. Já quando o setor privado vai acompanhado do poder público, isso gera muita confiança por parte dos investidores. Eles sabem que estão falando com pessoas sérias e isso encurta muito a curva de aprendizagem.
Desde o início sempre tivemos o apoio de outras entidades do setor. CBIC e SECOVI estiveram sempre presentes, apoiando e encorajando a pequena entidade que nascia no Nordeste.
Paulo Simão, então Presidente, e José Carlos Martins, atual presidente da CBIC, mais do que parceiros, viraram amigos e irmãos que a vida me deu. Confesso que a morte do Paulo Simão há alguns anos me impactou profundamente. Tinha muito carinho por ele e curiosidade sobre como um homem tão bom e até ingênuo, conseguia navegar tão bem no mundo tanto da política institucional, como especialmente na política partidária, com a qual ele era encantado.
Já o Zé Carlos Martins continua até hoje sendo um amigo próximo e confidente. Baita executivo, fico impressionado com a sua objetividade e capacidade de fazer as coisas acontecerem. O setor deve muito a eles, dois homens de espírito público e alta integridade que deixaram suas marcas e influenciaram profundamente o setor no Brasil.
Recordo de uma passagem quando o Governo do Ceará e a Prefeitura de Natal não honram os acordos de patrocínio conosco, e para a entidade não fechar suas portas tivemos que contar com o apoio dos conselheiros da entidade, que fizeram aportes relevantes na oportunidade. Foi nesse momento mais crítico da entidade que a CBIC chegou junto e viabilizou um convênio que nos ajudou a permanecer na superfície.
Outro grande aliado de primeira hora foi o SECOVI/SP, especialmente nas figuras do Romeu Chap-Chap e do Carlos Aberto Camargo. Romeu é a minha maior inspiração no setor imobiliário. Grande liderança, ele virou uma instituição em si mesmo. Ele virou uma grande referência para mim.
Lembro de quando no segundo NORDESTE INVEST em Salvador, ele me parou em um corredor e pediu para tirar uma foto comigo. Isso me marcou profundamente. Como assim, o grande Romeu Chap-Chap querendo tirar uma foto comigo?! Isso mostrou o quanto de humano e humilde ele tinha.
Ele também me valorizou em diversas outras oportunidades. Uma que não esqueço foi ao me convidar para fazer parte do Núcleo de Alto Temas –NAT do SECOVI, onde tive a oportunidade de discutir os grandes temas do Brasil com grandes personalidades, como Ozires Silva, Ives Gandra e vários outros pesos pesados do empresariado e da política brasileira. Nunca me senti tão pequeno e humilde, com tanta coisa para aprender.
Já o Carlos Alberto sempre foi um entusiasta da ADIT e acabou virando virou um amigo querido, presente até hoje no Conselho da entidade. Lembro bem de nós percorrendo o Salão Imobiliário de Madrid lá pelos idos de 2006 e ele me dando uma série de conselhos e orientações.
Foi assim, com muito apoio e incentivo de entidades, do poder público e das empresas que a ADIT começou a sua trajetória. Um trabalho coletivo feito a muitas mãos. Sempre que vejo alguém me elogiar pela ADIT fico me lembrando de quantas pessoas boas cruzaram os nossos caminhos e nos ajudaram a chegar onde chegamos.
No próximo artigo, vou falar sobre o que tudo isso significou na prática: quais iniciativas, eventos, conquistas e desafios que tivemos nos primeiros anos da entidade.
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