“Uma pessoa que não fez sua grande contribuição para a ciência antes dos trinta anos nunca o fará. ” – Albert Einstein
Lembro como se fosse hoje quando li essa citação de Einstein e do impacto que ela teve em minha vida. Um dos resultados principais foi que me deu confiança para pensar grande quando era muito jovem. Eu a li quando estava no início dos meus vinte anos e lembro que se falava que o “Annus mirabilis” seria 27 anos. Dei gás para não perder a minha oportunidade.
Mas se de um lado isso meu deu um grande impulso em sonhar alto, pois ficou claro que a juventude não era um limitador, mas um propulsor da grandeza, por outro lado, com o passar do tempo, eu via a juventude indo embora e a velhice chegando, o que obviamente causava algum incômodo, apesar de eu não pensar muito a respeito. A pergunta era: “Será que o melhor já passou? Será que a partir de agora minha vida será apenas ladeira abaixo? Será que viverei apenas das “glórias” do passado? ”. Cheguei inclusive a escrever um texto sobre isso aqui no blog: Clique aqui para ler.
Sabemos que tudo o que sobe desce, mas muita gente não se prepara e não sabe lidar com isso. O declínio é inevitável e vai acontecer mais cedo ou mais tarde, mas a sensação de fracasso não precisa ser inevitável. Precisamos nos preparar emocionalmente para ele ou entender como ajustar nossa vida para as mudanças no mundo e em nossos interesses e prioridades.
Meu foco voltou ao assunto no ano passado quando assisti o TED Talk com Albert László-Barabási sobre a relação entre idade e chance de sucesso. Passei a refletir e estudar o assunto e hoje eu vou dividir com vocês as minhas conclusões.
Vou dividir a análise desse assunto em três temas principais: (a) atitude e contexto, (b) relação entre criatividade e produtividade e (c) os diferentes tipos de inteligência presentes nos jovens e nos velhos. Atitude e contexto
Um fato óbvio é que o jovem tem muito mais energia e disposição para o trabalho. Lembro bem que era comum eu trabalhar das 5h às 20h todos os dias e que para mim nunca houve essa figura do final de semana, muito menos feriado. Sempre trabalhei muito nos finais de semana, especialmente em assuntos que exigiam concentração ou para colocar em dia o que ficava atrasado durante a semana. Férias de trinta dias eu nunca tirei. Claro que hoje aos 47 anos ainda continuo trabalhando muito duro, mas o pique já não é mais o mesmo.
A fase inicial é a fase do sonho, quando estamos construindo nossa carreira ou nossa empresa. É a fase das oportunidades que “não podemos deixar passar”. É a fase da inexperiência e ingenuidade, quando muitas vezes conseguimos alcançar sucesso apenas por não saber que era impossível. É a fase da tentativa e erro, quando temos pouco a perder.
Também é fato que ao envelhecer muitas pessoas mudam suas prioridades, se voltando para a família, tentando compensar a ausência passada, ou construindo uma nova família. As prioridades fora do trabalho passam a ter um peso maior. As pessoas começam a curtir a vida, em busca de prazeres e conquistas que não conseguiram ter no passado. É a hora de “usufruir” a vida, aproveitando que a sobrevivência financeira está assegurada. Muitos também redirecionam as suas vidas para propósitos mais levados, tentando encontrar significado em suas existências, enquanto outros se cansam do que estiveram fazendo por tanto tempo, seja por encher o saco mesmo ou por ter virado rotina e não apresentar mais desafios.
Alguns obtiveram sucesso e relaxam, enquanto outros adquirem novos interesses, afinal de contas é normal relaxar quando se atinge um objetivo. As pessoas acham que já atingiram sucesso e ficam complacentes e satisfeitas com o que possuem.
O que também influencia muito na obtenção de sucesso é a rede de relacionamento. É comum que o poder passe de uma geração para a próxima. E é comum vermos pessoas mais velhas reclamando porque já não conhecem mais os tomadores de decisão. É como se os jovens estivessem empurrando os mais velhos para fora da arena.
Mas uma das coisas que mais prejudicam os velhos é a incapacidade ou interesse em se adaptar aos tempos modernos e a predisposição de viver no passado. Onde mais podemos ver isso é em tudo relacionado à tecnologia. Se a pessoa não tiver a capacidade de se adaptar ao novo, certamente ficará para trás. E isso é algo que está totalmente ao alcance de qualquer pessoa. É só querer, ter a cabeça aberta e gastar alguma energia nessa direção.
As modas também prejudicam os mais velhos. As modas passam e deixam muitas pessoas obsoletas. Isso é muito comum no mundo musical, onde vemos artistas talentosos ficarem datados e serem rapidamente esquecidos pelo público e pela indústria. É muito raro um artista ter uma longevidade muito grande tendo sucesso contínuo. De um lado, a qualidade criativa vai caindo (veremos as razões mais a frente) e, do outro lado, novas modas vão surgindo. São raros os artistas que têm a cabeça aberta e a competência para se adaptar. A maioria soa igual a si mesmo, em uma versão piorada.
A mentalidade da pessoa também influencia muito sua capacidade de adaptação. Hoje está muito popularizado o conceito de mindset fixo e de crescimento. É claro que aqueles com mindset fixo serão atropelados pelo tempo. A incapacidade deles de mudar e crescer impedirão que consigam se manter competitivos e que obtenham sucesso por um período prolongado, pois como todos nós sabemos a única constante da vida é a mudança.
Mas apesar disso tudo, só porque uma pessoa envelhece não significa que sua vida acabou e que não vai mais conseguir obter sucesso e alcançar a grandeza. O mundo está repleto de exemplos de pessoas que obtiveram sucesso ao envelhecer. A lista é interminável e nem vou me dar ao trabalho aqui de citar alguns dos casos. Todo mundo já ouviu falar dessas histórias de sucesso e elas são particularmente abundantes no mundo dos negócios. O que importa não é tanto a idade dessas pessoas, mas a mentalidade delas e a capacidade de continuar a acreditar e a produzir. Relação entre produtividade e criatividade O mundo está repleto de exemplos de pessoas que tiveram suas maiores conquistas na juventude, especialmente artistas e cientistas. Foi por causa disso que Albert Einstein falou que quem não fizesse sua maior contribuição antes dos trinta anos, jamais o faria.
É só ver a quantidade de músicos que adoramos e que vivem de músicas do passado, do início de suas carreiras e que não mais conseguem produzir músicas com a qualidade. É só ver que a maior parte das grandes descobertas científicas foi feita quando seus autores tinham um pouco menos ou um pouco mais de trinta anos.
Um grande estudo buscou entender esse fenômeno e levantou todas as publicações científicas desde o final do século XIX, mostrando que realmente os cientistas publicam a grande maioria de seus artigos nos primeiros 10 a 15 anos de sua carreira. E esse foi o grande achado da pesquisa. As melhores idéias não acontecem cedo devido aos jovens serem mais brilhantes, mas porque eles simplesmente produzem mais. Ou seja, a criatividade não tem idade, mas a produtividade tem.
A produtividade de um cientista é igual à probabilidade dele publicar seus artigos de maior impacto. O sucesso pode vir a qualquer tempo, no início ou fim da carreira, e é totalmente aleatório, pois é a produtividade que muda. Quem continua tentando, continua tendo chance de alcançar sucesso.
Todo artigo que um cientista produz tem a mesma chance de causar impacto. O processo funciona como um bilhete de loteria: quanto mais bilhetes de loteria compramos, maiores as nossas chances de ganhar.
Com o passar do tempo parece que as pessoas ficam menos criativas, mas o fato é que elas simplesmente param de tentar.
Hoje em dia olhamos para essas pessoas que foram bem-sucedidas com idade mais avançada no passado e achamos que elas nasceram extraordinárias, muito distintas de nós, mas o fato é que durante a maior parte de suas existências elas viveram vidas ordinárias, cheias de fracassos e frustrações. A única diferença delas para os outros é que elas não desistiram.
Apesar do pico do trabalho de uma pessoa estar relacionado ao pico de sua produtividade, independentemente de sua idade, existem sim profissões que são mais apropriadas para jovens e para velhos. Enquanto atividades mais criativas como arte e matemática tendem a alcançar seu pico cedo e depois ter um rápido declínio, profissões como historiadores e filósofos tendem a alcançar seu pico mais tarde e ter pouco ou nenhum declínio com o passar do tempo.
A criatividade das pessoas também varia muito, com alguns produzindo sua obra-prima e depois caindo no ostracismo, enquanto outros conseguem manter uma produção constante ao longo das décadas.
Existe ainda a diferença entre a idade cronológica e a idade da carreira. As pessoas mudam de interesse e carreira frequentemente. Muitas vezes passam anos e décadas fazendo algo que entendem ter sido uma perda de tempo, desvinculadas de suas capacidades ou simplesmente fruto de uma aposta errada. Outras vezes, a pessoa simplesmente passou esse tempo todo fazendo algo que não gostava, seja por necessidade ou não, e com o passar dos anos acaba se dedicando à sua verdadeira paixão ou vocação. O que vai contar é o tempo em que a pessoa se dedicou à essa carreira e não a sua idade. Muitas vezes, escolher a carreira certa é puramente uma questão de sorte ou oportunidade.
Um segmento onde as chances de sucesso aumentam muito com o passar do tempo é empreendedorismo. Apesar da cultura popular endeusar os jovens fundadores de startup, vários estudos demonstram que suas chances de sucesso são ínfimas. Eles criam muitas empresas, mas poucas são bem-sucedidas. Alguns poucos casos de sucesso estrondosos acabam mudando nossa percepção sobre isso, mas o fato é que as empresas fundadas por pessoas com 50 anos têm o dobro de chance de abrir o capital e ter uma saída de sucesso do que aquelas fundadas por quem tem 30 anos. Não vou nem dizer quais são as chances de isso acontecer com quem tem 20 anos...
Um outro ponto é que existe uma diferença entre performance e sucesso. Precisamos de performance para obter sucesso, mas a performance, ou desempenho, é intrinsecamente algo difícil de avaliar e tem mais a ver com você, enquanto o sucesso é maneira como a comunidade enxerga, reconhece e remunera a sua performance.
A performance trata de você e o sucesso de nós. A maioria das pessoas trabalha em áreas que não possuem cronômetros para medir nosso desempenho, sendo preciso alguma métrica externa para medir o sucesso.
A performance tem pouca variação no desempenho humano. Usain Bolt não consegue correr dez vezes mais rápido do que os outros seres humanos. Ele corre apenas 1% mais rápido do que o segundo colocado. Já o sucesso não tem limites e a ordem de grandeza na diferença entre quem tem sucesso e quem não tem é muito grande, existindo grandes diferenças no sucesso para pequenas diferenças de performance. Quanto grandes livros existem que não devem nada ou até são melhores do que os campeões de venda?
Tipos de inteligência
O psicólogo Raymond Cattell propôs o conceito de inteligência fluida e inteligência cristalizada para entender as diferenças de desempenho das pessoas em diferentes momentos de suas vidas. Elas são dinâmicas, mudam ao longo do tempo e em conjunto formam a inteligência geral de uma pessoa.
Achei mito interessante o conceito desde que tive contato com ele a primeira vez. Em especial, porque vejo ele claramente fazendo sentido em minha vida. A minha missão de vida é reunir, sintetizar e difundir conhecimento e tenho direcionado a minha vida nessa direção. Essa teoria me agradou porque mostra que estou no caminho certo.
A inteligência fluida é a capacidade básica de processamento, é o QI, a capacidade de analisar, processar e pensar flexivelmente. Jovens têm alto nível de inteligência fluida. Ela começa a declinar nos 30s e 40s e atinge a capacidade de gerar novas idéias. A inteligência fluida envolve ser capaz de pensar e raciocinar de maneira abstrata e resolver problemas. Essa habilidade é considerada independente de aprendizado, experiência e educação. Exemplos do uso de inteligência fluida incluem a solução de quebra-cabeças e a elaboração de estratégias para solução de problemas. Infelizmente, não podemos nos basear totalmente nesse tipo de inteligência ao envelhecer.
Já na inteligência cristalizada você aplica a sua capacidade de resolver problemas com a sua inteligência e conhecimentos acumulados e a habilidade de sintetizar coisas que você não necessariamente inventou. Isso costuma acontecer mais tarde na vida.
Acontece porque seu conhecimento e habilidades continuam se acumulando, pois ela envolve conhecimentos provenientes de aprendizagens anteriores e experiências passadas. À medida que envelhecemos e acumulamos novos conhecimentos e entendimentos, a inteligência cristalizada se torna mais forte. Com isso dito, inteligência fluida e cristalizada estão entrelaçadas. A inteligência cristalizada é formada através do investimento em inteligência fluida quando as informações são aprendidas. Ao usar a inteligência fluida para raciocinar e pensar em problemas, as informações podem ser transferidas para a memória de longo prazo, para que possam se tornar parte da inteligência cristalizada. Por isso que não adianta brigar para continuar a ter sucesso com a inteligência fluida ao envelhecer. O melhor é ter consciência dessa mudança e se adaptar e com o passar do tempo é atuar em um campo onde a inteligência cristalizada seja valorizada, como ser professor ou mentor, ou aquelas onde fazer ligações e conexões sejam importantes. Entre as lições que ficam, está o fato de que a idade é apenas um número e que o que importa é a sua mentalidade. Mais do que nunca devemos crer no dito popular de que existe o jovem de corpo e o jovem de mente. Apesar disso, ficou bastante claro que a energia se reduz com o passar do tempo e que as pessoas cansam, passam a ter outra prioridade ou simplesmente ficam satisfeitas com o que já alcançaram.
Também ficou patente o impacto da produtividade no sucesso das pessoas, bem como o fato de que efetivamente devemos nos adaptar ao tipo de inteligência que temos de acordo com a nossa idade.
Precisamos ser criteriosos ao analisar se o que nos trouxe até aqui ainda está presente. Se não estiver, talvez seja a hora de começar a procurar outra coisa para fazer.
Para os mais velhos fica também a lembrança de que a experiência é um ativo que não tem preço e devemos usá-la. Junto com ela vem o instinto, que deve ser cada vez mais respeitado com o passar dos anos, pois ele é apenas a nossa experiência falando o que devemos fazer.
Nunca seremos velhos demais para aprender e para ensinar e se talvez não possamos ter mais sucesso do que os outros, sempre podemos ser uma versão mais bem-sucedida de nós mesmo, nos parâmetros que realmente importam para nós e não naqueles impostos pela sociedade.
Acredito que cada um de nós deve entender se tem perfil de corredor de curta distância ou de maratonista e adaptar a sua vida a isso. Alguns terão uma grande idéia ou conquista cedo na vida, enquanto outros irão construindo seu sucesso ao longo do tempo.
E para finalizar, acredito que o sucesso será sempre o resultado de uma combinação de personalidade, sorte, inteligência e persistência, em qualquer idade e não somente quando somos jovens. Portanto, aproveite do passado apenas aquilo de bom que ele tiver a lhe oferecer e olhe para frente, pois o futuro lhe pertence.
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