Arquitetos e incorporadores têm lançado mão de plantas e árvores nas fachadas dos prédios. Apesar de tornar as perspectivas ainda mais bonitas, é necessário ter cuidado com sua implantação e manutenção
Ultimamente virou rotina ver perspectivas de novos prédios com plantas e até árvores na fachada. Claro que fica lindo na perspectiva, porém, ou desaprendi tudo o que sei sobre construção, ou muita gente pode acabar tendo problema no futuro.
Como tudo o que vira moda, existe um efeito manada, onde incorporadores e arquitetos não querem ficar para trás e fazem questão de mostrar que são modernos e antenados. E claro que os clientes e corretores também amam aquelas perspectivas modernas e repletas de verde.
Todos que atuam no setor imobiliário sabem que o item que mais agrega valor a um empreendimento é a água, e que em segundo lugar vem o verde.
Por isso, os projetos e as perspectivas dos empreendimentos sempre capricham no paisagismo. A sua relação custo-benefício é altamente positiva.
Mas, até agora, o paisagismo sempre foi utilizado no chão, enquanto que nessa nova fase está indo para os céus.
Sou um apaixonado por plantas e pelo verde. Eu me encanto com a beleza de um lindo jardim e com o cheiro e a ambiência de uma mata.
Já fui produtor de flores tropicais e palmeiras e as vendia nos leilões de Holambra/SP, como também exportava para a Holanda e a França.
Já fiz loteamentos e resorts e, por isso, sei da imensa dificuldade de implantar e manter um paisagismo de primeira e que faça jus ao que foi mostrado nas perspectivas.
Tentei lembrar de alguns desafios práticos que enfrentei em meus empreendimentos na hora de fazer a manutenção de um jardim. Eis alguns itens:
⁃ A necessidade frequente de reposição de aspersores;
⁃ A frequência com que nossos jardineiros precisavam redirecionar os aspersores para o lugar certo tendo em vista que adultos e crianças o trocavam de lugar ou mudavam sua direção;
⁃ A queima e manutenção de bombas de irrigação;
⁃ Necessidade constante de colocar adubo e esterco;
⁃ Podas rotineiras;
⁃ Ventanias que chegam a derrubar árvores;
⁃ Tratamento frequente de doenças;
⁃ Necessidade de acompanhamento por parte de um agrônomo;
⁃ Sujeira causada pela poda e limpeza do canteiro;
⁃ Tubos de irrigação furados;
⁃ Necessidade de retirada de ervas daninhas;
Certamente, existem outros problemas que não lembro agora, mas o que não consigo esquecer é o quanto sofria com os problemas gerados pela manutenção dos jardins do meu resort.
Uma coisa que torna o trabalho ainda mais difícil é que, ao contrário da infraestrutura de um empreendimento, os jardins estão à vista de todos e, junto com a pintura das paredes, é o que forma o conceito de um empreendimento em relação à sua manutenção. Ou seja, um empreendimento estará bem ou mal mantido, e consequentemente valorizado ou não, em função da qualidade de sua pintura e de seu jardim.
Portanto, sabendo de todas as dificuldades que já enfrentei na manutenção de jardins no chão, fico me perguntando o que leva um incorporador a incluir um jardim na fachada de um prédio e na maioria das vezes dentro da área privativa do apartamento, o que tornará a manutenção ainda mais difícil.
Claro que compreendo que dessa forma a imagem do prédio ficará mais bonita, e as chances de vender o empreendimento mais rápido e mais caro aumentarão.
Mas existem alguns limites que devem ser respeitados na atividade de construção civil. A responsabilidade de um incorporador é enorme. Conheço inúmeros casos de empreendedores que perderam todo o lucro de um prédio ou até mesmo chegaram a quebrar devido a problemas construtivos, muitos deles exatamente nas fachadas dos prédios.
Por isso, eu me arrepio quando penso na dificuldade de plantar árvores nos andares superiores de prédios. Essa tecnologia não está disseminada pelo Brasil. E não se trata apenas da dificuldade de transportá-la lá para cima, mas também de fixá-la corretamente e de aguardar para ver como ela reagirá aos fortes ventos dos andares superiores e às dificuldades de manutenção.
O cuidado com a poda dessa vegetação terá que ser redobrado para que não sujem os apartamentos e não caiam no térreo.
Um outro grande receio é o da infiltração. Claro que existem tecnologias e empresas de primeira linha quando se fala de impermeabilização, mas estamos falando de raízes de seres vivos que estão tentando, a todo custo, encontrar um espaço para se expandir.
Claro que isso tudo pode até ser apenas rabugice de algum construtor da velha guarda que não quer se render às inovações.
Pode até ser, mas acho que existem algumas situações que envolvem muita responsabilidade, onde a inovação precisa ser cuidadosa. Apesar de achar exagerado, sempre me lembro do que meu ex-sócio dizia: “Inovação na construção eu só analiso depois de cinco anos da entrega dos primeiros empreendimentos pelos meus concorrentes.”
Eu tenho uma máxima de que se a decisão é reversível, eu decido rápido, avalio e, se for necessário, me adapto. Porém, se ela for irreversível, analiso a situação de todos os ângulos possíveis, ouço a opinião de todo mundo que for necessário, especialmente de quem já passou por isso antes de mim, e não me precipito para tomar a decisão.
E é exatamente isso o que eu recomendo para quem está analisando a viabilidade de um edifício com plantas na fachada.
Talvez esse seja o melhor conselho que eu possa dar para quem está analisando a viabilidade de um edifício com plantas na fachada.
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