Cuidado: transformar sua paixão em profissão nem sempre é uma boa idéia
- Felipe Cavalcante
- 29 de jan. de 2021
- 5 min de leitura
Na minha opinião estamos sofrendo uma epidemia do propósito e da paixão. Cada vez mais as pessoas buscam e são instadas por todos os meios a seguir sua paixão e trabalhar com o que gosta e têm interesse. Confesso que eu mesmo sou um aspirante a praticante dessa seita e sou comprado na idéia e aos poucos estou direcionando minha vida nesse caminho.
Mas isso não significa que transformar a sua paixão em seu trabalho é sempre uma boa opção ou até mesmo viável. Na verdade, é um luxo para poucos privilegiados e isso não pode ser perdido de vista. A grande maioria das pessoas precisa trabalhar com o que der, pois eles têm obrigações de sobrevivência consigo próprios e com suas famílias. Eles têm seus sonhos, sim, mas não têm os meios para alcança-los e o trabalho decente e honesto é o caminho para se tentar chegar lá.
Como falar para uma pessoa que luta pela subsistência que faça o que ama? Ela não possui o mindset, os recursos, as habilidades, os acessos e a rede de segurança necessários para seguir esse caminho.
Todo esse desejo de trabalhar com sua paixão pessoal ou com um propósito é um fenômeno recente, muito recente, e em nenhum outro lugar ele é mais forte do que no mundo das startups. Já virou inclusive piada os slogans vazios e repetitivos dos fundadores de startups no sentido de mudar o mundo.
Não há nada de errado em ter seu trabalho e não ter um propósito ou paixão relacionado a ele. Trabalho é meio de vida para pagar as contas, criar sua família, ter lazer, viajar. Faz parte inerente da vida e é saudável.
Ao contrário, fazer algo sobre o qual você é apaixonado fora do trabalho pode ser muito benéfico e pode ajudar tanto sua vida pessoal como no seu trabalho. Inclusive, já existem estudos que demonstram que as pessoas se beneficiam mais quando seu trabalho e sua paixão são diferentes.
É importante entender que com o passar do tempo, o hobby vai virando um negócio como outro qualquer, como inúmeras obrigações “desagradáveis”, como contabilidade, gerenciamento de funcionários, finanças, marketing, vendas, logística, produção, e por aí vai.
O irônico é que muitas vezes a pessoa que trabalha com seu hobby/paixão acaba precisando desenvolver um outro hobby, uma válvula de escape, para tirar o stress do hobby inicial.
O certo é que se nem todas as paixões e interesses podem ser um meio de vida, existe sim a possibilidade disso acontecer. É para poucos, mas é sim possível. Só não pode virar um mantra universal. Para aqueles que estão dispostos a tentar, seguem minhas considerações.
É muito raro uma pessoa ter clareza de sua paixão desde jovem. E quando falo raro, estou falando raro tipo ganhar na loteria. A maioria das paixões nascem de interesses que as pessoas cultivam ao longo do tempo em uma verdadeira maratona de tentativa e erro. Muitas paixões iniciais desaparecem com o tempo e outras surgem em seu lugar.
Elas também não se desenvolvem ao ler livros ou ver filmes. Esses podem inspirar e despertar o interesse, mas o que realmente nos faz desenvolver paixão por algo é a prática.
Se você for um privilegiado e conseguir se dar a esse luxo, tente. Vale à pena não se arrepender no futuro. Quanto mais jovens, mais risco de apostar em suas paixões você pode correr, até porque tem tempo de sobra para se reinventar depois.
Outra situação é a das pessoas que se realizaram profissionalmente na vida e que se voltam para seus interesses pessoais, paixões e novos propósitos de vida como forma de se auto realizar ou de deixar um legado. Se você tiver essa possibilidade não deixe nada lhe impedir.
Uma outra opção bastante comum acontece quando a pessoa tem uma determinada segurança financeira e começa a desenvolver em paralelo o seu interesse. Para mim esse é o caminho mais seguro, apesar de ser praticamente inviável para empresários que estão construindo suas empresas. Mas pode ser uma excelente opção para executivos e, especialmente, funcionários públicos. Muitas empresas de sucesso foram criadas dessa maneira. Outra variante é quando um dos conjugues tem a condição de manter a casa enquanto o outro aposta as suas fichas no seu sonho. Ou seja, nessa linha de ação você joga algumas rodadas normais antes de apostar o ALL IN.
Se você trabalha com algo do seu interesse ou sua paixão é fato que terá muito mais perseverança, garra e resiliência para superar as dificuldades e com isso terá mais chances de obter sucesso.
A maioria das pessoas têm tantos interesses diferentes que muitas vezes têm dificuldade de escolher em qual investir seu tempo e recursos. Seus interesses e paixões podem mudar com o tempo. Sem problema. Isso é normal.
É sempre bom e saudável ter um hobby fora do ambiente de trabalho, uma persona totalmente diferente.
Hoje em dia, como já falei nesse artigo (https://www.matx.com.br/post/tudo-o-que-voc%C3%AA-deve-saber-para-escolher-uma-faculdade-ou-profiss%C3%A3o), existe tempo de sobra para tentar e caso não dê certo seguir outra carreira.
Se vai fazer uma aposta em sua paixão, aproveite e faça um seguro. Aprenda outras atividades que não exigem curso superior para uma eventual complementação de renda, como programação, design, marketing digital, etc.
Independentemente do que escolher fazer da vida, faça o seu máximo para ter uma boa base escolar.
Se puder, faça um curso superior para o caso de sua aposta não dar certo.
Você precisa ter alto grau de autoconhecimento, pois não adianta gostar do que faz nem ser bom, mas sim ser bom o suficiente para ganhar a vida e, em última análise, estar disposto a abrir mão de ter uma vida de sucesso financeiro, em detrimento da sua realização pessoal. Sem arrependimentos no futuro.
Se sua paixão for música, por exemplo, não aprenda só a tocar, mas também outras atividades marginais como mixagem, produção, edição de vídeos, gestão de negócios musicais, marketing digital, etc. Assim você pode ser um profissional único na sua atividade e se destacar, além de poder desenvolver com o tempo outras profissões ligadas àa atividade que você gosta e que podem lhe gerar um maior sucesso financeiro e profissional.
As paixões e hobbies não são geralmente ensinadas em faculdades, pelo menos não bem o suficiente para deixa-lo competitivo. A maioria é pura prática, cursos específicos, aprendizados com mentores, ou em alguns casos escolas especificas e de alto nível. Para ficar no exemplo anterior, não vá aprender música em uma Universidade Federal, por exemplo.
Quando estiver indeciso sobre se é hora de desistir ou insistir, consulte o guia que fiz aqui https://www.matx.com.br/post/desisto-ou-continuo-tentando.
Se tiver um emprego ou outra atividade profissional, garanta 1 a 5% do seu tempo semanal para o seu hobby ou paixão. É uma maneira de começar e apontar a sua vida no rumo que você quer e no objetivo que quer alcançar. Esses pequenos sucessos vão alimentado sua motivação e com o passar do tempo você vai ter construído algo de que vai se orgulhar.
Aproveite as plataformas online tanto para aprender, como para alcançar o máximo número de pessoas com sua atividade.
Aproxime-se de outros grupos e pessoas com interesses similares. Participe de clubes. A internet facilita muito isso.
Ensine gratuitamente a sua paixão ou fale sobre ela na internet para atrair pessoas com interesses similares ou se promover de maneira inteligente e adquirir autoridade sobre o tema. Ou seja, crie sua audiência.
Para resumir o que discutimos aqui, existem sim as duas possibilidades, tanto de uma pessoa ter seu trabalho normal e praticar seu hobby nas horas vagas, como de desenvolver essa paixão profissionalmente. O que sou contra é a cultura de que viver isso está ao alcance de todos. Isso não é verdade e espero que com as dicas acima eu tenha podido ajudar pelo menos uma pessoa a tomar a sua decisão.
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