O bullying é um problema que sempre existiu e, acredito, sempre existirá. Todas as pessoas já presenciaram, foram vítimas ou fizeram bullying com alguém.
Está certo que antigamente isso era visto de outra maneira, meio que natural e rito de passagem para as durezas da vida. Hoje em dia a coisa é diferente e chama a atenção de toda a sociedade, mas infelizmente a grande maioria das crianças e dos pais ainda não sabe como lidar com a situação. A maioria dos conselhos e orientações não são muito práticos e quase que o problema acaba se resolvendo por si próprio e deixando marcas nas crianças.
Aqui nesse texto eu tentei dar minhas dicas sobre como lidar de maneira pragmática sobre o assunto baseado na minha experiência de criança, de pai e no que a literatura técnica fala sobre o bullying. Um livro muito bom sobre o assunto é “Bullyproof your child for life” de Joel Haber e Jenna Glatzer.
Dividi o texto em três seções: o contexto e a dinâmica do bullying, como os pais devem lidar com a situação e conselhos práticos para as crianças que sofrem bullying.
O contexto e a dinâmica do bullying
Durante gerações a maneira que os pais tinham de lidar com o bullying era mandar os filhos reagirem e baterem de volta. Era o auge do “Se chegar em casa apanhado, vai apanhar de novo. ” Isso mudou e não funciona mais.
Outras orientações eram “ignore” e “fale com o professor”. Você vai ver porque também não funcionam mais no decorrer desse texto.
Os amigos e conhecidos da criança que sofre bullying têm receio de intervir e passar a ser o próximo alvo.
Crianças geralmente não têm a opção de deixar de se relacionar com quem faz bullying com ela, pois são obrigadas a conviver na escola.
O Bully (Pessoa que faz o bullyong) tem satisfação em machucar pessoas que ele considera fracas para construir seu próprio senso de poder.
O Bully muitas vezes tem exemplos em casa onde um dos pais é o Bully e o outro a vítima.
O verdadeiro Bully não é o que faz eventualmente algo, mas aquele que pratica continuamente por meses e anos e acaba perdendo a empatia.
Existe dois tipos de Bullies: o agressivo, baseado na força física, e o social, onde alguém popular, charmoso para os adultos, esperto e com muitos amigos, mantém seu status social ridicularizando os outros. Muitas vezes eles são vistos como líderes e paparicados por professores e treinadores.
Todo mundo quer ser popular. Raramente alguém vai querer se opor a um Bully popular por receio de ser visto como alguém que não é “maneiro” e perder status social.
Bullies têm maior probabilidade de fumar, roubar, ter falta de empatia, ser agressivo, vandalizar propriedades, usar drogas, faltar aulas, deixar a escola, ter amigos agressivos, ter autoestima elevada e ser popular.
Qualquer coisa é motivo para sofrer bullying: ser alto ou baixo, gordo ou magro, inteligente ou burro, pobre, corte de cabelo esquisito, óculos, religião diferente, desempenho esportivo medíocre, “peitinho”, e por aí vai.
Existem três tipos de bullying: físico, verbal e relacional. O relacional é o mais comum entre garotas, apesar de também existir entre homens. Ele é baseado em exclusão social, na forma de fofoca, não deixar sentar juntos, excluir do grupo ou do time. Ele é bem sofisticado e pode causar grande dano no longo prazo, pois o bullying é feito pelo grupo e não por uma pessoa
Antigos amigos podem parar de ser amigos, deixar de ter contato visual e não falar ao passar pela pessoa com receio de ser associado ao pária social.
Parte da razão das demais pessoas não ajudarem quem sofre bullying é que enquanto essa pessoa for a vítima, os demais não correm risco de ser tornar a vítima.
Bullies não têm empatia pela criança. Eles não estão nem aí se estão machucando ela. Na verdade, é isso o que eles querem.
A maneira que uma criança responde ao bullying é que determinará se o evento vai se repetir e escalar. Se for capaz de rir da situação, se afastar se sentindo tranquilo sobre o que aconteceu, certamente não irá virar objeto de bullying no longo prazo. Mas se não souber lidar com a situação e responder emocionalmente, aí o problema virá.
Existem muitas maneiras de uma criança reagir sem nem perceber que está reagindo, como linguagem corporal e expressão facial, que mostrarão ao Bully que ele teve sucesso.
Como os pais devem lidar com a situação.
Pais são babões e geralmente as crianças não levam em consideram seus elogios. Eles contam com os pares para dar avaliações honestas sobre eles. Não importa quantas vezes um pai diga ao filho o quanto ele é esperto ou bonito, se ele ouvir o contrário dos colegas é nisso que vão acreditar.
Tentar resolver o problema pelo seu filho, tirar satisfação com o Bully ou exigir alguma atitude dos professores geralmente prejudica mais do que ajuda. Mostra que o filho não consegue resolver sozinho o problema e expõe ele ainda mais.
Criar um ambiente onde o seu filho confie em lhe dizer o que está acontecendo é o maior desafio. Seja um ouvinte atento, não julgue ou acuse ele, nem nunca traia sua confiança expondo os segredos que ele falou. É muito raro recuperar a confiança quebrada e seu filho não irá voltar a dividir informações com você.
Em vez das perguntas tradicionais, tipo “Como foi o dia na escola”, faça perguntas tipo: “Com quem você senta no ônibus escolar? ”, “O que faz no recreio? ”, “Você já viu alguém sofrer bullying na escola? ”, “Quem sofre bullying na sua escola? ”, “Isso já aconteceu com você? ”, “Você já fez isso com alguém? ”, “Com quem você lancha todo dia? ”, “Com quem você brinca no recreio? ”, “A boa não é passada para você de propósito no jogo? ”.
Fique atento à expressão facial, linguagem corporal, tom e mudanças na atitude quando fizer essas perguntas ao seu filho.
Pergunte com frequência essas perguntas para sentir se as respostas são coerentes. Respostas vagas pode ser um sinal de alerta.
Afirme que você não vai fazer nada que não seja combinado com ele e que jamais irá expô-lo perante os colegas do colégio. Diga que está do lado dele para encontrar maneiras de lidar com a situação.
Não reaja emotivamente, com agressividade ou julgando. Isso fará seu filho se calar.
Nunca acuse seu filho por estar sendo vítima de bullying.
Faça tudo o que estiver ao seu alcance para seu filho fazer novas amizades. Coloque em esportes, leve a clubes, convide colegas para sua casa, convide os amigos dele para passear, e por aí afora.
As crianças ganham confiança social através de repetidos pequenos sucessos.
Conselhos práticos para as crianças que sofrem bullying.
A coisa mais importante é demonstrar para o Bully que as coisas que ele faz não importam para você. Não precisa fingir que não está ouvindo, não precisa argumentar ou chorar, apenas dê um sorrisinho e diga “tanto faz”, “não ligo”, “como queira” ou algo similar.
Fingir que não está vendo ou ouvindo só vai fazer o Bully ficar mais agressivo. E quem sofre bullying geralmente não é muito bom em fingir esse tipo de coisa.
A maior arma para se livrar do bullying, junto com não ligar, é o humor, a auto depreciação. Faça piada de si mesmo. Rir é a grande solução em vez de ficar amuado ou com medo.
Se falarem que você é isso ou aquilo, simplesmente concorde e não demonstre que aquilo lhe atingiu.
Essas são algumas das coisas que você pode dizer para o Bully: “Diga o que quiser de mim, não ligo. ” “Talvez você esteja certo. ” “OK, concordo. ” “Obrigado. ”
“Eu não ligo” é a frase e a atitude mágica para o bullying acabar.
Ter um bom desempenho em algum esporte, atividade artística e similares representa quase um seguro para não sofrer bullying. Você passa a ser visto como alguém de sucesso em uma área e que merece ser respeitado. Você tem uma habilidade.
Tem amigos é fundamental. Não existe maior escudo contra bullying do que amizades. É ruim quando se tem apenas um ou dois amigos próximos.
Se o Bully já foi amigo, talvez valha à pena falar o quanto ele está lhe machucando.
É bom ter vários grupos de amigos para não depender de apenas um.
Se estiver sendo incomodado por algo que possa ser mudado, como o corte de cabelo, os óculos, o tipo de roupa, mude. Simples assim.
Se estiver sentindo fortalecido, pode falar: “é o suficiente. ” “Pare. ” “Isso não é engraçado. ”
Se for confrontar, faça sem emoção. Bullies adoram respostas emotivas, choro, grito, e se isso acontecer o Bully vai continuar. Tem que olhar no olho, falar com calma e firmemente.
Não use essas palavras: Cale a boca; Você é um babaca/imbecil/otário; Isso não é verdade; Não sou; Mentiroso; Fique longe de mim; Eu te odeio.
Se achar que está pronto, fale: “Bata logo ou me deixe sozinho”, olhando no olho e com postura ereta.
Tendo consciência de que mostrar que o bullying não lhe afeta e fazer piada de si mesmo são remédios poderosos e adotando ao menos algumas dessas posturas e técnicas elencadas acima, certamente qualquer criança estará mais bem equipada para lidar com o bullying.
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