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Foto do escritorFelipe Cavalcante

Flow: onde o prazer, o crescimento e o propósito se encontram

Poucos livros me influenciaram mais do que Flow de Mihaly Csikszentmihaly. Sempre achei uma pena que não houvesse tradução para o Português. Aqui em casa fiz questão de difundir o conceito, que foi inclusive bem mais utilizado pela minha esposa e pelo meu filho do que eu mesmo, já que ela adora produzir artesanato e ele adora tocar música.


O grande impacto que Flow teve em mim foi em função de eu nunca ter ficado satisfeito com o conceito de felicidade que via muita gente defender: aquele onde a pessoa vivia momento efêmeros de alegria e prazer.


Eu intuitivamente não concordava com isso, pois isso significava que a gente só podia ser feliz por alguns momentos e que eles estavam mais ligados a fatos externos do que internos nossos. Depois disso, vinha a infelicidade.


Com o passar do tempo foi se consolidando em mim a convicção de que a felicidade tem vários ingredientes, sendo realmente um deles os bons momentos da vida, mas acrescidos também de uma vida com significado e propósito e a realização de coisas que gostemos, que nos complete e nos faça crescer. E aqui é que entra o Flow.


O Estado de Flow (Fluxo em inglês) é aquele momento onde ficamos completamente envolvidos com o que estamos fazendo e perdemos a noção do tempo. É aquele momento onde o esforço concentrado encontra o prazer e o senso de propósito.


Quando estamos em Flow não percebemos o tempo passar e não sentimos fome, tal o grau de envolvimento com as atividades que estamos desenvolvendo.


Claro que um pressuposto para se atingir o Estado de Flow é que gostemos do que estamos fazendo. Outro pressuposto é que exista um equilíbrio entre nossas habilidades e os desafios.


Quando o desafio é alto e nossa habilidade é baixa, tendemos a nos desestimular e ficar ansiosos. Por outro lado, quando a nossa habilidade é alta e o desafio é baixo nossa tendência é ficar com tédio. O Estado de Flow acontece quando estamos no limite superior de nossas habilidades, meio que passando dele em vários momentos, mas não muito. Ou seja, quando estamos crescendo, aprendendo, desenvolvendo e o desafio é levemente superior à nossa capacidade.


Vou usar como exemplo para ilustrar a minha relação com o tênis. Há alguns anos eu comecei a treinar tênis. Não sabia nada, mas rapidamente tomei gosto. Durante o período em que pratiquei o esporte houveram momentos onde eu pratiquei com adolescentes que estavam iniciando no esporte e que estavam em um nível bem inferior ao meu. Claro que fiquei entediado. Já em outros momentos, aconteceu o inverso e eu acabei jogando com jogadores muito melhores do que eu, o que também me deixava desestimulado.


Caso a maioria dos meus treinos envolvesse pessoas muito melhores ou piores do que eu, certamente eu teria me desestimulado e abandonado rapidamente o esporte, mas felizmente eles foram minoria e na maioria das vezes eu tive o nível adequado de desafio relacionado à minhas habilidades, sempre me desenvolvendo. Os melhores momentos, inclusive, foram quando eu treinei com pessoas que jogavam um pouco melhor do que eu e eu ganhei delas.


Para deixa mais claro o que caracteriza o Estado de Flow, eu peguei na internet os gráficos abaixo:




Assim, a teoria do Flow não concorda com a afirmação de que os melhores momentos da nossa vida são aqueles passivos e em que estamos relaxados. Apesar de esses momentos poderem ser agradáveis, os melhores momentos de nossa vida acontecem quando levamos nosso corpo e nossa mente ao seu limite através de um esforço voluntário para alcançar um objetivo que seja desafiador e importante.


Durante o Estado de Flow não existe espaço para as coisas ruins da vida. Devido ao fato de que todo nosso foco e atenção estão direcionados para a atividade que estamos realizando não ficamos pensando em preocupações, nem nossa mente fica vagueando.


Em muitas ocasiões é possível ir em busca do Estado de Flow. Para isso devemos nos impor um auto desafio e aumentar por nossa conta própria o grau de dificuldade da atividade que estamos realizando. Isso é importante quando estamos desenvolvendo algo que está abaixo de nossa capacidade e nos entediando.


Porém, existem aqueles muito momentos onde nos sentimos capazes e hábeis, mas sem desafios à altura. Essa é famosa Zona de conforto. Como ela é muito confortável, muitas pessoas preferem permanecer nela do que procurar novos desafios. E claro que isso é perfeitamente compreensível.


Uma outra característica do Flow é que ele não é permanente. Por definição, ele só dura enquanto estamos focados em uma atividade e ela está nos desafiando. Ao completar essa tarefa, o Estado de Flow infelizmente acaba.


Já outro ponto positivo do Flow é que não precisamos de reconhecimento externo ou feedbacks para alcançá-los. É algo de nós conosco mesmo. Os objetivos e as motivações são intrínsecos.


Também se destaca o fato de que por mais que as tarefas sejam desafiadoras e nos deem trabalho, o Estado de Flow é sempre lembrado como algo relevante e prazeroso. Ficamos satisfeitos, sentimos que crescemos e muitas vezes nos vemos seguindo um propósito maior e alcançando um sentimento de plenitude.


A única coisa que lamento no Estado de Flow é que ele está distribuído de maneira desequilibrada na sociedade e nem todos conseguirão alcançar o sentimento de união entre a pessoa que faz e a tarefa que está sendo feita, tornando-se quase que uma coisa só, sem o sentimento sublime de perda de consciência, onde a pessoa perde o senso de si mesma.


Depois de descrever como ele funciona, fica claro que algumas atividades são mais propensas ao Estado de Flow, em especial aqueles que envolvem criação, atividades manuais e esportivas. Músicos, arquitetos, artesão, designers, atletas têm uma chance muito maior de conseguir alcançar o Estado de Flow de que um funcionário burocrático de uma empresa. Apesar disso, vocês não vão acreditar, mas um dos momentos que sempre me vi em Flow foi elaborando planilhas no excel. A sensação é única quando a gente termina uma planilha complexa.


Uma coisa que eu sempre fico me perguntando é se é possível alcançar o Flow na gestão de uma empresa. Eu sempre fico na dúvida e adoraria se alguém pudesse dividir comigo suas idéias. Meu feeling diz que sim, apesar de não estar embasado em teorias.


Na gestão ou no empreendedorismo encontramos algumas características do Estado de Flow. Temos um senso de propósito, desafios que nos fazem crescer e a realização de coisas que gostamos e nos completa. Conheço vários gestores que perdem a noção do tempo enquanto administram seus negócios e esquecem de almoçar, por exemplo.


Tenho plena convicção de o conceito de Flow deveria ser mais difundido. Certamente ele pode ajudar muitas pessoas a encontrarem o seu caminho na vida. Nesse texto tentei dar minha pequena contribuição e espero que ele possa ser útil para você.

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