Um dos fatos mais engraçados da minha trajetória profissional foi eu ter me tornado um líder institucional tendo estado à frente de entidades estaduais e nacionais. Ninguém que tivesse me conhecido na infância ou adolescência teria apostado isso, pois eu sempre fui tímido e o mais distante de um líder que alguém pode ser nessa fase da vida.
Por outro lado, eu sempre ouvi as pessoas falarem que um líder nasce líder. O problema é que a minha experiência pessoal discordava dessa afirmação.
Eu ficava pensando na enorme quantidade de pessoas que se inibem de se tentar assumir posições e atitudes de liderança porque sempre disseram para ela que um líder nasce líder.
Por isso tudo é que hoje eu vou dar a minha opinião sobre o que é a liderança, quais são suas características e como ela funciona. Também vou explicar a importância crucial da inteligência emocional na liderança e a diferença entre esta e a gestão.
Existem inúmeras definições de liderança. Muita gente faz definições complicadas, com palavras difíceis e enchendo linguiça. Para mim a coisa é simples e objetiva: liderança é simplesmente a habilidade de levar outras pessoas a agir de determinada maneira, ou seja, é a capacidade de mostrar o caminho e persuadir as pessoas em relação a um determinado rumo. É aquela velha estória, não existe líder sem liderados...
Outra percepção importante é que, por definição, quem lidera influencia. E quem influencia tem poder. E essa influência vem das duas principais forças vitais da liderança: a confiança e a defesa do interesse.
Pode parecer óbvio, mas muita gente esquece que um líder deve ter a confiança de seus líderados. Ninguém segue um líder em quem não confia.
O outro alicerce da liderança é a defesa do interesse. As pessoas seguem um líder quando elas acreditam que é do interesse delas e não apenas porque alguém te carisma, se diz um líder, alguém foi eleito líder ou porque tem os recursos e posição de liderança.
Uma coisa muito comum é que na maioria das vezes os líderes que ascendem, em especial na política, traem a confiança ou deixam de defender os interesses de quem os colocou lá. Por isso que é comum vermos pessoas que se elegeram em cima de uma plataforma de defesa de determinadas idéias e grupos precisarem se reinventar e começar a jogar o jogo do pior da política através de esquemas de compra de votos de lideranças ou de eleitores. Se mantivessem sua base fiel, não precisariam recorrer a isso.
Aqui nós temos os primeiros motivos pelos quais acredito que a liderança pode ser desenvolvida e não é um dom divino, pois adquirir a confiança de outras pessoas e defender seus interesses são atitudes que qualquer um pode ter a qualquer momento. São escolhas e não características de personalidade.
Por outro lado, existe uma outra característica que é muito importante em líderes: a inteligência emocional. Nesse caso, temos uma mistura de qualidades que nasceram conosco e outras que desenvolvemos ao longo da vida. Se é mais difícil aprender inteligência emocional do que habilidades técnicas, por outro lado a história da humanidade tem nos mostrado que é possível ser líder mesmo sendo desprovido dela. Temos visto isso recorrentemente no mundo da política, em especial quando falamos de extremos à esquerda e à direita.
Já no mundo privado e empresarial, a inteligência emocional desempenha um papel muito mais crucial, sendo quase que pré-requisito para crescer na vida. Na verdade, quanto mais alto você está, mais necessária é a inteligência emocional.
As habilidades técnicas e a inteligência, tão valorizadas na escola e na faculdade, são apenas requisitos de entrada. Quanto mais uma pessoa sobe na vida, elas vão deixando de ser necessárias e mais as pessoas precisam desenvolver a Inteligência emocional.
Se você olhar com atenção, vai perceber que os líderes que você mais admira e respeita são aqueles com autocontrole, empatia e habilidade de relacionamento social e não aqueles com grande capacidade técnica, já que isso quase não é exigido em níveis hierárquicos mais elevados.
De fato, o que distingue os grandes líderes é exatamente a sua inteligência emocional. Além disso, existe uma correlação positiva entre o sucesso de uma empresa e o nível de inteligência emocional de seus líderes.
Uma outra explicação que se faz necessária é a diferença entre liderança e gestão. Muita gente não entende o papel de cada uma delas.
Apesar de algumas vezes se confundirem, em especial em empresas menores, a liderança em uma empresa está muito mais atrelada à visão e direção da empresa e ao alinhamento e motivação da equipe. Se você tem um papel de liderança e não gasta a maior parte do seu tempo fazendo isso, você não está cumprindo o seu papel.
Já a gestão tem como função o gerenciamento, o controle e a elaboração de planos e orçamentos. Ou seja, a gestão cuida do dia-a-dia da empresa.
Uma definição que gosto muito de usar é que enquanto o líder olhar para frente e para fora da empresa, o gestor olha para baixo e para dentro.
Mais uma vez vemos aqui a dinâmica de que um líder não precisa ser alguém com dons especiais, ele apenas precisa ter o foco direcionado para o futuro da empresa e não para o seu presente.
Dito tudo isso, eu vou falar abaixo sobre uma série de características da liderança para explicar melhor como ela funciona;
· A liderança não é estática e pré-definida. Qualquer pessoa pode desenvolvê-la. O básico é ser confiável e defender o interesse de um grupo de pessoas.
· A maioria das pessoas pode ser tornar um líder. Para isso, precisará ter um mínimo de inteligência emocional e QI e não ser disfuncional.
· Quem tem coragem de falar e se expor em público em defesa de determinada idéia ou grupo geralmente se torna líder. O risco é compensado pelo grupo. A atitude é admirada.
· Liderança não é para uns poucos escolhidos e forças da natureza.
· Pessoas introvertidas são excelentes líderes. Sempre pensamos em líderes como pessoas extrovertidas e bons oradores, mas esse perfil de pessoa muitas vezes acaba trabalhando mais em uma agenda própria do que os introvertidos, geralmente mais focados no grupo do que em si próprio, além de serem muito propensos ao autoconhecimento, reflexão, empatia, motivação intrínseca e autocontrole, que com isso muitas vezes conseguem compensar a baixa capacidade de relacionamento interpessoal.
· O bom senso é um excelente ingrediente da liderança.
· Ninguém gosta de pessoas desagradáveis. Dificilmente elas conseguem ser bons líderes. Ser agradável e simpático é barato e está ao alcance de todos.
· Não é necessário ser chefe para ser líder. As organizações e a vida pessoal das pessoas estão repletas de líderes que não ocupam cargos formais. Essas pessoas influenciam as demais.
· O poder do elogio é subestimado. Nenhum de nós o usa como deveria. Precisamos usar com muito mais frequência, mas o ponto central é que ele precisa ser sincero.
· Os líderes nem sempre estão certos. Eles não estão lá porque acertam sempre. Líderes são falíveis e está tudo bem com isso.
· Muitos acham que liderança é mudar o mundo. Vemos os grandes líderes mundiais, figuras inspiradoras e que deixaram a sua marca no planeta e achamos que isso é a definição de liderança. Errado. A liderança é construída no dia-a-dia, em pequenas interações e na conquista e manutenção constante da confiança.
· É verdade que a liderança é situacional. Eu mesmo sou um exemplo. Existem ambientes onde consigo ter uma liderança maior do que em outros. Tenho muito mais facilidade em desempenhar esse perfil em entidades de classe e relacionamentos com outros líderes do que no dia-a-dia e nas questões operacionais da empresa, por exemplo. E, claro, se meu carro quebrar não esperem que eu assuma a liderança para resolver a situação.
· Nem toda liderança é do bem, infelizmente. Muita gente consegue liderar explorando o que há de pior na alma humana.
· Muitas pessoas que não são líderes em suas empresas, são líderes fora dela. Alguns são pastores, outros são líderes comunitários, esportistas ou líderes se suas famílias. Liderança não está restrita à política ou às empresas.
Por fim, uma reflexão que deixo com vocês é se, mesmo sabendo que é possível desenvolver a liderança, vocês realmente querem ser líderes. A liderança traz junto uma série de responsabilidades e preocupações. Ao longo de minha carreira já desejei várias vezes não estar em determinada posição para não ter que enfrentar algumas situações.
Também já tive inúmeros colaboradores que eram fantásticos no que faziam, mas não queria assumir responsabilidades maiores. E está tudo bem com isso.
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