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  • Foto do escritorFelipe Cavalcante

O futuro dos escritórios está no urbanismo

Todo mundo está cansado de ouvir falar do futuro do trabalho Pós-Covid. Home office, uso da tecnologia, flexibilidade de horário e esvaziamento dos escritórios são algumas dos pontos mais comentados.


Mas algumas das tendências mais fortes do mundo corporativo não estão sendo discutidas, como a relação dos escritórios com as cidades e o uso misto dos edifícios.


Em todo o mundo está havendo um retorno dos edifícios corporativos para os centros urbanos. Gigantes como a Google e Amazon têm investido bilhões de dólares em prédios localizados nas áreas centrais de Nova York e San Francisco, por exemplo.


Estão se distanciando cada vez mais da visão ultrapassada de instalar seus escritórios nos subúrbios, como fez a Apple na década passada, e como anunciou a XP durante a pandemia.


As empresas de tecnologia perceberam que os jovens não querem trabalhar isolados a 40 minutos de distância de onde moram, e que muitos deles não possuem automóveis.


Para contratar e reter talentos, essas empresas perceberam que teriam de instalar seus escritórios onde esses jovens querem estar: nos centros urbanos, próximos de bares, restaurantes, serviços e onde possam acessá-lo a pé, de bicicleta ou de transporte público.


A localização dos escritórios em áreas adensadas e dotadas de infraestrutura, transporte público, serviços, comércio e gastronomia vai tomar o mundo corporativo de assalto. É uma marolinha prestes a se tornar uma onda dentro de alguns anos e um tsunami nas próximas décadas.


Essa tendência acompanha a valorização do adensamento urbano vista em todo o mundo, com as pessoas querendo morar perto do trabalho, do lazer e das conveniências do dia a dia.


Conceitos como “Cidades para pessoas” e “Cidade de 15 minutos” representam um ideal de cidade que foi perdido nos últimos 100 anos de planejamento urbano centrado nos automóveis e na separação de usos.


Apesar dessa tendência ser especialmente popular entre os jovens, ela atingirá todas as faixas etárias, afinal de contas, todos querem morar perto do trabalho, da escola dos filhos, da diversão, dos restaurantes, das lojas, e poder resolver rapidamente suas necessidades pessoais durante o intervalo do almoço ou depois do trabalho.


As pessoas gastam muito dinheiro viajando para a Europa, Buenos Aires e Nova York para fazer Turismo urbano, onde o grande objetivo é exatamente andar pela cidade.


Mas a localização do escritório é apenas a primeira parte desse processo. Não adianta estar localizado em uma região central e desejada da cidade e manter o padrão atual de edifícios isolados, distantes e segregados das cidades.


Os novos edifícios corporativos terão fachadas ativas integradas ao espaço urbano, com lojas, bares e restaurantes criando um clima de energia e vibração no entorno do prédio.


Um dos primeiros exemplos do Brasil é o Edifício B32 na Avenida Faria Lima, aberto para a cidade, com um magnífico teatro, uma praça com cadeiras para as pessoas se sentarem, um escultura de baleia que já virou atração na cidade e a adoção de dos melhores conceitos do urbanismo mundial, sem contar o estado da arte da arquitetura e da engenharia.


Mas no Brasil nada supera o Passeio Primavera em Floripa. É uma delícia, uma ode ao encontro das pessoas e ao bom urbanismo. (Disclaimer: Eu sou Conselheiro da Cidade Pedra Branca, empresa responsável pelo Passeio Primavera, mas meu entusiasmo aqui é real, de alguém que teve a oportunidade de conhecer de perto a sua dinâmica e se apaixonar pelo lugar).


O Passeio Primavera começou há mais de 20 anos com o maior Garden Center do Brasil, chamado, claro, de Primavera. Não havia, então, plano em relação ao que se tornou. Era uma terreno da família e foi se desenvolvendo aos poucos.


O segundo passo, foi a construção do cowork da ACATE, o edifício-sede da Associação Catarinense de Tecnologia, que desde então tem todo uma grande influência no desenvolvimento do ecossistema de empresas de tecnologia do estado, o segundo maior do País.


A seguir, foi inaugurada a Mercadoteca, um food hall de alto padrão com diversas opções de gastronomia que conquistou Floripa e se tornou point da cidade.


Para completar, foi construído o edifício corporativo Primavera, cheio de inovações. No seu térreo, além de restaurantes e lojas, existe uma creche. Isso mesmo, os profissionais que trabalham no prédio podem deixar seu filho na creche enquanto trabalham. E o mais interessante é que o local de recreio das crianças é a praça pública do Passeio Primavera, que fica exclusiva para eles nesse período. Elas brincam aos olhos de todos que estão pode lá. Quando acabam, a praça volta ao uso dos passantes.

O edifício inova também ao não ter controle de acesso para ao andares. Qualquer pessoa pode chegar e subir.


A união de crianças, executivos de setores tradicionais, executivos de startups e clientes dos escritórios, bares e restaurantes, cria um lugar único, vibrante, efervescente e aberto para a cidade. Virou um imã de atração para os manezinhos e turistas.


E para completar, foram aplicadas no Passeio Primavera as melhores práticas internacionais de streetscape, incluindo paisagismo, pavimentos das calçadas e vias internas, e mobiliário urbano. É aquela coisa: a gente acha o local muito legal e aconchegante, mas não sabe bem o porquê. A resposta é o streetscape, o design do seu espaço público.


Um fato a destacar é a presença de startups e empresas tradicionais dividindo o mesmo lugar. Ambos saem ganhando com essa interação. As empresas tradicionais têm acesso à inovação e ao clima descontraído das startups, enquanto as empresas tradicionais estão juntas de prestadores de serviços de qualidade e investidores. Parceiros e clientes de parte a parte. É um ganha-ganha matador, que gera muitos negócios para todos.


Mas se você já estava achando interessante essa tendência, a coisa vai mais longe ainda, com alguns já proclamando o fim dos prédios com uso apenas corporativo. A tendência é a que os edifícios corporativos passem a ter diversos usos dentro deles e não apenas nas redondezas.


Um dos maiores exemplos disso é o Willis Tower (antigo Sears Tower) em Chicago, antigo prédio mais alto do mundo, com seus 108 andares.


Adquirido pela gigante Blackstone, passou por uma grande reforma que incluiu inúmeras amenidades e diferentes usos, como food hall, museu de arte, centro de conferências para eventos corporativos e festas de casamento. Aulas de yoga, shows, bares, um museu sobre a história de Chicago e um observatório no seu topo são outros exemplos de usos que agregam valor não só para quem lá trabalha, mas para toda a cidade.


Uma coisa em comum entre o B32, o Passeio Primavera e o Willis Tower é a valorização acima do mercado dos aluguéis cobrados e a significativa taxa de vacância menor em comparação com os concorrentes.


Com o crescente movimento pelo retorno do urbanismo tradicional, focado nas pessoas e não nos automóveis, e do adensamento urbano como maior aliado do aquecimento global e do meio-ambiente, não tenho dúvidas de que veremos cada vez mais iniciativas como essas.


Se serão um nicho ou se tornarão mainstream, o futuro dirá. Porém, não tenho dúvidas de que, na luta pela contratação e retenção dos melhores talentos, esse tipo de ambiente fará toda a diferença. As mesas de pingue-pongue empalidecem perto dos atrativos desse novo modelo de edifício corporativo.


Cada vez mais, os prédios se integrarão à cidade. O isolamento não atrai as pessoas. Algo parecido está acontecendo no mercado residencial em relação aos bairros planejados, abertos para a comunidade, com grande oferta de serviços e amenidades.


Do mesmo jeito que os clientes que vivem a experiência urbana de um bairro planejado se apaixonam, os executivos cairão de amores pela novo ambiente de trabalho urbano que esses novos edifícios multiuso oferecem. Quem viver, verá.


Autor: Felipe Cavalcante

Contato: felipe@matx.com.br

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