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Foto do escritorFelipe Cavalcante

Porque alunos ruins têm sucesso na vida e alunos bons não conseguem se destacar na vida profissional

É comum os pais e os próprios jovens acreditarem que o sucesso na vida vai vir através de um bom desempenho da escola. Acreditam que tirar boas notas é o único caminho que os levará a ter uma vida adulta de abundância ou pelo menos estabilidade financeira.


O problema com essa abordagem tão comum é que ela está simplesmente errada. É só a gente lembrar da quantidade de jovens brilhantes e CDFs que tiravam as melhores notas e que não tiveram destaque em suas carreiras profissionais ou que, pelo menos, tiveram menos sucesso do que outras crianças e adolescentes que não tiravam notas altas ou que eram até bagunceiros e descomprometidos com as atividades curriculares.


O mundo está cheio de exemplos e cada um de nós conhece pessoas com ambos os perfis: os bons alunos que não chegaram a lugar nenhum e os maus alunos que obtiveram sucesso na vida.


E porque isso acontece com tanta frequência?


Em primeiro lugar, os assuntos que são ensinados nas aulas são poucos estimulantes, desconectados da realidade, sem utilidade de uso no presente ou no futuro e estimulam a decoreba. Assim, exigir que as pessoas se interessem pelo o que é ensinado é um enorme desafio. E sem interesse, sabemos que dificilmente alguém irá se dedicar a algo, especialmente adolescentes.


Outro ponto importante é que muitas vezes temos a tendência de resumir a inteligência às questões que exigem raciocínio lógico e analítico, o que se encontra nas ciências exatas, como a matemática, apesar de hoje sabermos que existem vários tipos de inteligência, como a musical, espacial, corporal, emocional, linguística e social, entre outras.


O problema é que as escolas não estão estruturadas para incentivar e medir esses outros tipos de inteligências. Elas são formatadas para avaliar apenas a inteligência lógica e, muito pior, a capacidade dos alunos em decorar textos e conteúdos que não fazem sentido para eles.


E aqui começo a chegar no meu ponto, que é a importância das atividades extracurriculares para o desenvolvimento dos jovens e seu sucesso na vida. A vida é muito mais do que atividades lógicas e de decoreba. A maior parte do nosso sucesso na vida, mesmo em atividades que exigem capacidade lógica, se dá pela nossa capacidade de autoconhecimento, de autocontrole e de relacionamento interpessoal e nada disso é ensinado nas salas de aula.


Não existem aulas sobre como lidar com frustrações, sobre como ser perseverante, sobre como saber a hora de insistir ou desistir de algo, sobre como se relacionar com amigos e inimigos, sobre como lidar com vitórias e derrotas e sobre como devemos reagir ao que acontece conosco. A única possibilidade que um jovem tem de ter lições sobre essas importantes questões é em atividades extracurriculares.


As atividades extracurriculares são os embriões de nossa vida adulta. Elas começam a nos dar experiência de vida. E não só no que se refere a como lidar conosco, com as demais pessoas e com as situações que acontecem, mas também em despertar interesse em matérias científicas e técnicas, já que ninguém se apaixona por algo em teoria, apenas estudando. É necessário expor os jovens a experiências que os coloquem em contato com o que é ensinado nas aulas de aula de geografia, história, química, física, matemática, biologia, etc.


Infelizmente, muitos pais entendem que a única obrigação de seus filhos é tirar boas notas nas matérias ensinadas na escola. Claro que isso é justificável tanto pela carga cultural, como por ser o meio clássico de ser medir a “inteligência” e esforço dos jovens, bem como por mostrar como eles estão nivelados em relação aos demais e ainda se estão no rumo certo de passar no vestibular e ter uma carreira de sucesso.


Desde cedo eu fiz questão de cobrar sim do meu filho um bom desempenho escolar. Mas mais importante do que isso eu sempre fiz questão de cobrar dedicação e esforço. Para mim isso é o que realmente vale, e eu tenho convicção de que com esforço o resultado aparece. Anualmente eu e meu filho estabelecemos a meta de notas para ele, mas também a quantidade de horas diárias que ele vai estudar.


Se eu vejo ele estudando todos os dias e aos sábados e domingos sem eu precisar mandar, eu sei que as coisas estão indo no caminho certo. A minha mensagem para ele é que o esforço deve ser recompensado e não necessariamente o resultado final, que muitas vezes é influenciado por questões que não controlamos. Tue tenho a convicção de que com esforço, garra e dedicação os resultados fatalmente chegam e o hábito é criado.


A irmã gêmea do esforço é a disciplina. Fazer o que você não quer, quando você não quer é um superpoder. Isso não tem preço para o sucesso de uma pessoa na vida real. Um jovem que odeia matemática tirar nota alta em matemática fala muito sobre o seu caráter e sobre a possibilidade de ele ter sucesso na vida.


Mas até agora temos falado da importância das pessoas fazerem coisas que não gostam, ou seja, estudar, em especial, assuntos que não lhe interessam. E é aqui que começamos a destacar a importância e o impacto das atividades extracurriculares para os jovens quando comparadas com as atividades curriculares.


Ao contrário das matérias que estudam no colégio, os jovens gostam das atividades extracurriculares. Achar a atividade que ele gosta é uma questão apenas de tempo e de tentativa e erro. Eu mesmo incentivei meu filho a testar várias atividades extracurriculares, como futebol, basquete e natação, entre outras.


O único esporte que eu não quis incentivar foi o vôlei, exatamente para não parecer que eu estava forçando a barra e projetando, já que eu joguei vôlei. Mas por obra do destino foi esse o esporte que ele escolheu e se destacou. O vôlei chamou a atenção dele devido a um anime sobre o esporte. Ai sim, depois de despertado o interesse dele, eu pude ajudá-lo e isso foi um grande diferencial, pois brincávamos e treinávamos em casa em na praia, muito mais do que o treino normal na escola, fazendo com que ele desenvolvesse o seu jogo acima da média dos demais alunos e fazendo ele se destacar.


É fundamental que crianças e adolescentes façam alguma atividade que eles gostem e lhes interesse fora do ambiente escolar pelo menos uma vez por semana. Mas além de se algo que eles gostem, é importante que seja algo que também lhes desafie. Não pode ser algo muito fácil, abaixo de suas habilidades. Precisa ser sempre um pouco acima delas.


Mais importante ainda é que, especialmente os adolescentes, façam isso por pelo menos um ano, para que a garra, perseverança, o senso de propósito, a prática e a esperança possam começar a ser cultivadas.


Aqui não existem limitações para os tipos de atividades extracurriculares. Pode ser balé, dança, futebol, pingue-pongue, xadrez, programação de computador, música, teatro e por aí vai. O importante é que seja uma atividade estruturada e com um adulto capacitado monitorando, orientando e exigindo o jovem.


A melhor explicação para a diferença entre atividades curriculares e extracurriculares é que na escola elas se sentem desafiadas, mas desmotivadas. Quando está com seus amigos, a situação é divertida, mas não desafiadora. É nas atividades extracurriculares onde elas encontram um ambiente que ao mesmo tempo as desafie, motive, seja interessante e as deixe felizes.


Como se não bastasse o bom senso para entender a importância das atividades extracurriculares para a construção do caráter e do futuro de um jovem, inúmeros estudos científicos ao longo dos anos têm demonstrado que o envolvimento nelas gera adultos com melhores resultados em praticamente todos os aspectos da vida, sejam melhores notas, mais autoestima, menor possibilidade de se envolver em problemas e crimes, menor chance de ficar desempregado, maior possibilidade de ter salários maiores e maior chance de obter cargos de liderança. E isso independe de qual foi a atividade a qual a pessoa se dedicou. O importante é que se dedique a ela por alguns anos.


O que é interessante é que a perseverança demonstrada nas atividades extracurriculares são melhores indicadores de que o desempenho escolar, o que explica o motivo de muitos crânios do colégio não obterem tanto destaque como outros alunos que eram tidos como alunos ruins ou descomprometidos.


Mesmo em universidades de destaque, como Harvard e mais recentemente a FGV, os critérios de escolha não são mais exclusivamente as notas dos alunos no colégio ou no vestibular. Em Harvard, pelo menos metade dos alunos aceitos se destacaram por ter se dedicado com destaque a alguma ação extracurricular.


Qualquer pessoa com interesse em fazer uma boa faculdade nos EUA sabe que terá que ter cartas de indicações e deve possuir um histórico de atividades extracurriculares importantes, incluindo ações de caridade e dedicação aos mais desfavorecidos.


Pela mesma razão, vemos com frequência a presença de ex-esportistas de alto nível tendo sucesso em ambientes competitivos, como o mercado financeiro, pois eles já demonstraram que têm espírito competitivo e que conseguem ser disciplinados e focados em seus objetivos.


O objetivo desse texto foi demonstrar a importância das atividades extracurriculares para o sucesso pessoal e profissional dos jovens. Pelo menos para mim isso está claro. O desafio é conseguir se soltar das amarras da tradição que nos empurra para seguir a velha doutrina de tirar altas notas e fazer boas faculdade.


Sem sombra de dúvidas que as boas faculdades ainda têm um papel, em especial pelo network e pela chancela de credibilidade, mas o que acredito que realmente vai ser importante para o meu filho e qualquer jovem é a sua capacidade de desenvolver seus talentos, seja onde eles estiverem e não somente em escolas e faculdades moldados para uma realidade que não mais existe.


E o caminho para isso é em primeiro lugar descobrir os interesses e talentos e depois focar neles, através de muito esforço, disciplina, garra e muito trabalho duro.

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