Reflexões sobre o futuro da educação e do desenvolvimento profissional
- Felipe Cavalcante
- 29 de jan. de 2021
- 4 min de leitura
Um dos assuntos mais unânimes em qualquer conversa é como o sistema educacional está ultrapassado. Escolas e faculdades possuem currículos desatualizados, confeccionados a décadas, engessados, presos a teorias ultrapassadas e ensinados por professores sem prática e desconectados do mundo real.
Assuntos fundamentais para qualquer pessoa e profissional, seja qual for sua profissão, são corpos estranhos no ambiente acadêmico. Liderança, inteligência emocional, garra, psicologia, como lidar com preocupações, resolução de problemas, tomada de decisão, empreendedorismo e persuasão não são ensinados em nenhuma escola ou faculdade do Brasil, mas todos sabemos que são essas habilidades que fazem os verdadeiros vencedores na arena da vida.
As instituições de ensino estão totalmente alheias à revolução tecnológica que estamos presenciando. Não é nem que elas sejam lentas em se adaptar. Se parte disso se deve às limitações regulatórias, outra parte significativa reside na incapacidade delas de compreenderem esse novo mundo, da letargia causada por ainda haver mercado para cursos tais como são oferecidos hoje e até à dificuldade de encontrar professores com os títulos requeridos pelo sistema tradicional, como mestrado e graduação, porque ninguém nesse mundo novo está interessado em ter mestrado e muito mesmo doutorado. Eles estão interessados em fazer acontecer.
Mesmo as profissões protegidas, como medicina, direito e engenharia, que continuarão a ter seus diplomas valorizados, precisarão se adaptar ao novo mundo da tecnologia, às inovações que as atingem. A disrupção não respeita ninguém, nem médico, nem advogado, nem engenheiro. É claro para todos que se algumas partes dessas profissões se manterão intactas nos próximos anos, algumas outras serão totalmente impactadas pela inovação que se avizinha.
Por outro lado, a grande oferta de cursos universitários de baixa qualidade, presenciais e à distância, toma o lugar dos cursos técnicos e faz com que aos poucos o diploma deixe de ser uma vantagem.
Um sintoma dessa falta de aderência das faculdades à realidade do mercado de trabalho é a quantidade de pessoas que não pratica a profissão na qual se formaram. Aposto que pelo menos metade das pessoas que você conhece simplesmente não pratica aquilo no que investiu ao menos quatro anos de duas vidas.
Reforça ainda mais a obsolescência do ensino atual o fato de que a sociedade cada vez mais não só permite, mas incentiva, a busca por propósito em detrimento da busca por estabilidade e segurança. Com isso, cada vez mais as pessoas terão várias profissões ao longo da sua vida, até porque com o aumento da longevidade vem junto o aumento da vida produtiva.
E isso traz junto a discussão sobre os dois tipos de profissão: as acumulativas e as não-acumulativas.
Se é certo que com o passar dos anos uma pessoa que pratica a contabilidade e cirurgia cardíaca acumulam mais experiência e provavelmente tornam-se profissionais melhores, por outro lado, em profissões como marketing e informática pode ser que nada do que você conheça hoje tenha utilidade dentro de cinco anos, deixando os profissionais em um constante estado de insegurança e ansiedade e obrigando-os a estar em constante reciclagem.
Nesse ambiente, como sempre acontece, as respostas ao mercado estão vindo nãos dos players tradicionais, mas de novos players como Drapper, Singularity, Minerva e, no Brasil, a Conquer.
Mas o caminho que muitas pessoas estão seguindo é o de evitar gastar quatro anos em uma faculdade teórica e desconectada da realidade, preferindo fazer inúmeros cursos práticos de curta duração e ensinados por professores que praticam no dia a dia o que ensinam.
A isso se junta o fato de que inúmeras empresas, especialmente de tecnologia, já estão percebendo que alguns dos seus melhores profissionais não são aqueles formados em universidades de ponta, mas jovens autodidatas ou pessoas que possuem características de atitude, resiliência e iniciativa que não são medidas pelos testes de QI ou pelas provas tradicionais.
Como para coroar tudo isso, temos as ilimitadas possibilidades oferecidas pelo mundo digital, permitindo que qualquer pessoa aprenda qualquer assunto a partir de qualquer lugar. Isso é simplesmente lindo e dá oportunidade para uma enorme gama de talentos que antes eram prejudicados pelo simples fato de ter nascido no lugar.
Enquanto alguns veem o You Tube como local de influencers de conteúdo vazio, ele protagoniza uma das maiores revoluções já vista na humanidade, com infindáveis canais que ensinam a fazer de tudo, sendo acompanhado nessa revolução por plataformas como Coursera e Udemy que oferecem curso de altíssima qualidade por apenas R$ 30,00.
Se tudo isso significa que os diplomas terão cada vez menos importância, por outro lado teremos duas áreas que se valorizarão muito no futuro.
De um lado, claro, a tecnologia em todas as suas vertentes. De outro lado, tudo que se refira ao autoconhecimento e desenvolvimento humano. São correntes antagônicas do momento em que vivemos, pois ao mesmo tempo em que a tecnologia reduzirá cada vez mais a necessidade da força de trabalho humana, as pessoas terão mais vida, recursos e saúde para procurar a realização, a felicidade, o bem-estar e o controle das emoções.
Para completar esse cenário de disrupção na maneira como pensamos nossas carreiras e a educação precisamos lembrar que são praticamente incontáveis as possibilidades de reinvenção das pessoas. Existem inúmeras profissões e habilidades que qualquer pessoa pode aprender em apenas quatro meses, como fotografia, programação e edição de áudio e vídeo.
Com isso, veremos cada vez mais as pessoas pensando em termos de carreira e não de profissão. As pessoas terão ao longo de suas vidas inúmeras profissões que gerarão uma cadeia de valor ao longo de sua trajetória, criando profissionais generalistas e um enorme incentivo à criatividade.
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