Savoring, a arte de saborear as coisas boas da vida
- Felipe Cavalcante
- 29 de jan. de 2021
- 5 min de leitura
Hoje eu vou chamar a atenção de vocês para algo que a maioria de nós já praticou algum dia, mas não sabíamos como chamar e nem quais eram os seus benefícios.
Estou falando do “Savoring”, a arte de saborear os pequenos momentos positivos da vida, quando sentimos prazer por algo que estamos vivenciando, um sentimento que gostaríamos de prolongar. Quando isso acontece, nós ficamos totalmente atentos e absorvidos pela situação, sem prestar atenção a mais nada e com um profundo sentimento de gratidão. É aquele sentimento que temos de prazer pelas coisas boas da vida.
Tem gente que vive isso com o cheiro de um bom café, com um pôr do sol de arriar o queixo, com uma vista bonita ou um bom bate-papo.
Eu vou dividir com vocês alguns dos meus momentos típicos de Savoring:
Andar na beira da praia ao nascer do sol, ouvindo o som das ondas e sentido a brisa e o cheiro do mar.
Acordar antes da 5h da manhã e ficar maravilhado com a beleza do nascer do sol. Eu faço isso todos os dias e nunca me acostumo com tanta beleza.
Quando estou comendo algo muito saboroso eu “saboreio” não só aquela comida, a sua textura e o sabor, mas também aquele momento, querendo que ele demore o quanto for possível.
Adoro ficar deitado no sofá da minha casa lendo livro e com uma brisa agradável batendo em mim.
Andar de barco com a minha família vendo as belezas da Barra de São Miguel, com o vento batendo no rosto.
Já tive momentos fantásticos, que eu não queria que acabasse nunca batendo papo com amigos, num clima agradável, comendo comidas deliciosas e dando muitas gargalhadas.
Ouvir uma música que reflete o meu estado de espírito e que me faz viajar, relaxar e ficar alegre.
Sentar nos Lençóis alagoanos na Barra de São Miguel catando massunim, o nosso marisco local.
Mas apesar do Savoring ter muito a ver com viver o momento presente, também caiu a ficha para mim de que ele pode existir sem a gente viver a situação. É por isso que eu adoro planejar viagens que eu nunca realizo. A sensação que tenho de planejar, visualizar e me ver vivendo os momentos futuros me dá uma sensação tão bacana que é quase tão boa quanto a viagem em si. A minha esposa nunca entendeu isso, porque ela acha que planejar uma viagem e não a realizar pode gerar frustração.
Racionalmente eu até concordo, mas eu descobri que os sentimentos positivos que isso gera compensam em muito qualquer frustração por não ter podido viajar.
A mesma coisa em relação ao passado, quando lembramos de coisas boas que vivemos, já que Savoring é na verdade a matéria-prima da nostalgia, que é quando relembramos algum momento do passado com alegria e saudade. Toda vez que lembramos com nostalgia do passado, estamos vivenciando o Savoring.
Também dentro de casa eu sempre tive um dilema no que se refere a tirar fotografias. A minha esposa sempre foi adepta de viver e curtir o momento, guardando-o na memória, seja em um show, em uma viagem ou em frente a uma bela vista. Como argumento muito forte a seu favor, ela sempre apontou o excesso das pessoas que não saboreiam o momento, preocupadas apenas em tirar fotos para postar nas mídias sociais.
Apesar de concordar com ela nesse aspecto, eu descobri que tirar fotos também pode ser um tipo de Savoring. Querer guardar a beleza e o sentimento de um momento para recordar no futuro é prova do quanto você gostou e curtiu ele. Ver essas fotos ou vídeos no futuro gera sentimentos positivos que não têm preço. Um exemplo disso é quando nos reunimos em família para ver as fotos do nosso filho em suas diferentes idades. O carinho e amor que transbordam nesses momentos não têm preço e agradeço por ter registrado esses momentos. Outro exemplo é recordar viagens e festas através das fotos.
Um meio caminho que é útil para quem tem boa memória, o que não é o meu caso, mas é o da minha esposa, é tirar uma foto mental do momento. É uma técnica que funciona muito bem, a de guardar na memória os momentos legais que vivemos.
Outra alternativa para quem quer viver esse tipo de momento é o das “Caminhadas para saborear”. Eu faço com frequência na belíssima orla de Maceió. Parte exercício, parte deslumbramento, nessas caminhadas eu fico apreciando a beleza da praia e do mar, o vento nos coqueiros, a brisa na minha pele, o cheiro do mar, a vida na orla.
Me pego muitas vezes me agradecendo por tudo isso e pensando da época em que eu não tiver mais saúde para desfrutar de algo que aparentemente é tão trivial e que não damos nenhum valor hoje.
E o melhor é que não são necessários grandes momentos e eventos para termos saborearmos a vida. Ao contrário, Savoring é a arte de saborear as pequenas coisas, que geralmente não valorizamos tanto e que nos trazem tanta alegria.
Algo sobre o que eu sempre me perguntei é sobre a sobreposição entre Savoring e gratidão. Por muito tempo eu achei que eram mais ou menos a mesma coisa, até chegar à conclusão de que apesar de serem parecidas e poderem ser confundidas, elas são diferentes. Em muitos momentos de Savoring o sentimento de gratidão aflora. Mas em vários outros a pessoa não pensa em nada, apenas em saborear, sentir e curtir a situação.
Por outro lado, é comum haver gratidão sem Savoring. Você agradece por algo que tem ou por algo que aconteceu, sem necessariamente imergir no momento.
Outra confusão que se pode fazer é entre Savoring e Mindfulness, já que por definição o Savoring exige atenção plena e deixa a pessoa absorvida no momento. Mas elas também são diferentes.
Quando falamos em Mindfulness, falamos em prestar atenção ao que acontece, independentemente de isso ser positivo, negativo ou neutro. Não existe emoção envolvida no Mindfulness. Sentir a respiração, prestar atenção nos móveis da casa, ver uma árvore balançando e ver os detalhes do que acontece ao seu redor são atividades Mindfulness.
Já quando falamos de Savoring, estamos envolvendo a vontade de deliberadamente curtir, melhorar, aumentar ou prolongar uma experiência positiva. Queremos não só saborear, mas manter e crias coisas positivas. No Savoring ficamos imersos na beleza, no sabor ou nas sensações das coisas. Savoring é por definição um sentimento positivo.
O Savoring também pode ter características similares ao estado de Flow, quando você imerge na situação e não vê o tempo passar. Porém, o estado de Flow geralmente exige algum nível de desafio na tarefa sendo praticada, razão pela qual Savoring e Flow não são a mesma coisa.
Uma vantagem adicional do Savoring é que, tal qual a meditação e o Mindfulness, ele também inibe a “Mind wandering”, ou seja, a mente andarilha que não para quieta e muitas vezes nos traz ansiedades e preocupações.
Em resumo, o Savoring é uma grande maneira de criarmos uma corrente de pensamentos e sensações positivas. É uma forma de valorizarmos as coisas boas que acontecem na vida. Isso tudo nos ajudar a ser mais felizes e a regular nossas emoções, sem sombra de dúvidas.
Com tantas coisas boas e sendo tão fácil de fazer, fico me perguntando porque tão poucas pessoas praticam deliberadamente o Savoring. Acredito que ele seja muito pouco difundindo como prática estrutura e espero que aos pouquinhos as pessoas vão se familiarizando e aproveitando os seus benefícios.
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