Esta semana eu estava assistindo a ótima série The Crown sobre a Rainha Elisabeth II quando um episódio me chamou a atenção. O Príncipe Philip, marido da Rainha, em meio a uma crise de meia idade e a uma rotina entediante, assiste fascinado a chegada do homem na lua. Acompanha cada passo dessa jornada épica e passa a idolatrar os tripulantes da nave Apolo, Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins, enxergando neles verdadeiros heróis, quase semideuses.
Após o retorno dos astronautas a terra, eles realizam uma turnê por mais de 20 países e visitam o Palácio de Buckingham, deixando o Príncipe Philip entusiasmado e ansioso para recebe-los. Ele encontra uma maneira de ficar a sós com os astronautas por 15 minutos e se prepara para o encontro elaborando perguntas sobre a grandiosidade da conquista deles e algumas questões filosóficas sobre o grande feito.
Como quase sempre acontece quando temos grandes expectativas, o Príncipe acabou frustrado. Ele se deparou com três jovens normais e brincalhões que estavam apenas seguindo uma dura e monótona rotina baseada em muito treinamento e disciplina, beirando o tédio. A verdade é que os astronautas não tinham tempo nem para olhar pela janela da espaçonave quanto mais para pensar em questões metafísicas.
Quando o Príncipe, frustrado, desistiu de fazer suas elaboradas perguntas, foi a vez dos astronautas bombardearem o Príncipe com perguntas sobre como era sua vida, como era morar em um palácio e toda sorte de curiosidade sobre o glamour que cerca a realeza.
No final, e a despeito de todas suas posses e conquistas, cada um queria ter a vida que o outro tinha. O Príncipe daria tudo para ser astronauta e os astronautas adorariam ser príncipes e reis.
Disso tudo tiro duas lições.
A primeira é a impressionante capacidade que temos de não valorizar o que temos e quem somos, o que é a fonte de toda infelicidade. O grande ingrediente para alcançar a paz interior é a gratidão. Valorize a sua visão, a sua capacidade de andar, o sentir da brisa em sua pele, o fato de ter acordado vivo hoje, de ter uma cama e de ter conseguido se alimentar. Pare de se lamentar por tudo o que você gostaria de ter ou ser. Só vai trazer miséria e rancor para a sua vida.
A segunda lição é parar de idealizar os outros. Somos todos humanos, com falhas, independentemente das conquistas que tenhamos alcançado. Quantos grandes estadistas foram maridos e pais horríveis. Quantos ótimos pais foram péssimos profissionais. Cada ser humano que já viveu nesse planeta teve sua cota de problemas, tragédias pessoais, erros e falhas de caráter.
Não lembro das palavras específicas, mas nunca me esqueci de um ditado que dizia mais ou menos que “para o criado de Napoleão não existem heróis”. Ou seja, a convivência diária mostra todas nossas falhas.
Assim, a lição que fica é que a distância é perita em criar heróis, enquanto a proximidade é especialista em torna-los humanos.
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