Antes de iniciar o texto em si, quero deixar a dica de leitura desses textos anteriores que escrevi e que estão diretamente relacionados com a resiliência a superação de problemas e momentos difíceis:
· As armadilhas do pensamento: clique aqui para ler
· A ciência do otimismo: clique aqui para ler
· Truques mentais para lidar com estresse e preocupações: clique aqui para ler
· Quando o fracasso se torna sucesso: clique aqui para ler
· Como lidar com preocupações e resolver problemas: clique aqui para ler
Falar de resiliência hoje em dia virou um lugar comum, um chavão de autoajuda. Geralmente só se encontra conteúdo com mais do mesmo e meramente motivacional. Isso sempre me incomodou, não porque eu precisasse me tornar mais resiliente. Ao contrário, conheço poucas pessoas mais resiliente do que eu. A quantidade de pancada que já aguentei na minha vida profissional me admira e surpreende àqueles que convivem comigo.
A maioria das pessoas enxerga apenas o lado glamoroso da minha trajetória profissional, como fundador e presidente da ADIT, proprietário de resort, incorporador e construtor desde os 22 anos, produtor de conteúdo e por aí vai. Mas por trás de cada uma dessas atividades tive grandes problemas e fracassos, mas nunca perdi a resiliência e a calma para conduzir os assuntos.
Mas lendo a literatura, artigos, podcasts e vídeos sempre senti falta de conteúdo que explicasse as bases científicas da resiliência e como uma pessoa pode se tornar mais resiliente na prática.
Nesse artigo, vou trazer para vocês não só a minha visão, mas principalmente a ciência por trás da resiliência. A primeira grande notícia é que existe uma série de comportamentos e habilidades que tornam uma pessoa resiliente e que estão ao alcance de todos. A pessoa pode até não virar um mestre em resiliência, mas ao final desse artigo compreenderá como lidar melhor com as dificuldades da vida.
Intuitivamente todo mundo sabe o que significa resiliência. É basicamente aguentar as pressões da vida. Uma das visões mais utilizadas é a do bambu em uma tempestade. Ele verga, mas não quebra, e passada a tempestade volta glorioso à sua posição original.
Essa parábola já nos mostra desde o início a importância da flexibilidade na resiliência. A rigidez de mentalidade é inimiga da resiliência.
Na cultura popular a resiliência é uma mistura de “Só os fortes sobrevivem” com o Darwinismo de “só sobrevive quem se adapta”.
Uma coisa que sempre me chamou a atenção é que muitas pessoas ao passarem por momento de dificuldades, inclusive severas, não só se recuperam, mas aprendem e florescem, ao passo que outras pessoas nunca conseguem superar os problemas pelos quais passaram.
A resiliência é construída por atitudes, comportamentos e apoios sociais que podem ser adotados e cultivados por qualquer pessoa. Fatores que levam à resiliência incluem otimismo; a capacidade de manter o equilíbrio e gerenciar emoções fortes ou difíceis; uma sensação de segurança e um forte sistema de apoio social.
Cientificamente, esses são os atributos da resiliência: a própria biologia da pessoa, autoconsciência, auto regulação, agilidade mental, otimismo, auto eficácia/domínio, conexões e instituições positivas.
Pessoas resilientes pensam nos estressores não como ameaças, mas como desafios. Quando têm um problema elas têm a mentalidade de dizer “isso é um desafio que eu posso superar” e uma atitude do tipo “Eu posso”, “eu consigo”. E aqui eu me lembro do truque que eu sempre usei desde que comecei a minha carreira. Sempre que eu me deparava com um problema eu dizia para mim mesmo que aquele problema era um muro e me perguntava se aquele era o meu limite, se era o ponto onde eu iria parar ou se eu conseguiria reunir as forças para pular o muro e continuar crescendo.
Para isso, é óbvio que é necessário ter um mínimo de inteligência emocional relativa ao autoconhecimento, ou seja, conhecer seus talentos e suas forças, bem como seus limites, e ter a capacidade de exercer o autocontrole.
Conexões é outra variável importante. Ser bem cuidado na infância ajuda na resiliência. Uma variável crítica para a resiliência é ter pessoas em sua vida em que você sabe que pode contar nos momentos difíceis.
A espiritualidade também tem uma contribuição positiva para a resiliência, e não necessariamente a religiosa, mas a espiritualidade de estar conectado com algo maior do que você mesmo. Pode ser fé ou outras coisas, como missão, propósito, uma idéia, algo em que você acredita, maior do que você e pela qual vale à pena lutar.
Entre as instituições positivas encontram-se a família, igreja, comunidade e o trabalho. Esses ambientes podem ajudar ou prejudicar. Ameaçar ou dar suporte.
Para mim, o ponto principal da resiliência é acreditar no futuro e ter fé que será melhor do que o presente, mesmo quando isso não é evidente e a situação pareça sem esperanças. Muito difícil superar as dificuldades da vida quando não se acredita ou se tem esperanças.
Ou seja, a grande base da resiliência é o otimismo. Ele é o grande remédio contra a ansiedade, o stress, a depressão. Se quiser se resiliente, seja otimista. Por definição, não há como ser resiliente sendo pessimista.
Outro grande combustível da resiliência e da garra é o senso de propósito e significado. Somos melhores em lidar e superar as dificuldades quando aquilo que fazemos faz sentido para nós, quando entendemos porque estamos fazendo, quando vemos uma vantagem futura ou quando fazemos por uma causa maior do que nós mesmo.
Outra curiosidade que cerca a resiliência é o quanto as pessoas que superam obstáculos difíceis e traumáticos são admiradas. As histórias de superação são unanimidade em todo o mundo, em todas as culturas e em todas as eras. Da mesma maneira, o inverso é verdade e as pessoas tendem a não admirar quem fica pelo caminho. A própria “Jornada do herói”, narrativa comum em roteiros e estórias, sempre conta a queda ao inferno e superação do personagem.
A maneira como as pessoas reagem às adversidades podem ser divididas em três. Em um extremo estão as pessoas que sofrem mais e acabam tendo depressão, stress pós-traumático e até pensamentos de suicídio. Essas pessoas têm dificuldade de voltar à normalidade. No meio do espectro encontra-se a maioria das pessoas, que sofrem de ansiedade e até depressão, mas com o passar do tempo voltam ao normal. Isso é o que podemos definir como a resiliência clássica. Por fim, temos aquelas pessoas que não só voltam ao normal, mas que crescem após a experiência traumática pela qual passam. Essas pessoas se encaixam na famosa frase de Nietzsche: “Aquilo que não nos mata, nos fortalece. ”, que a minha mãe me ensinou desde cedo, mas traduzida para o Alagoânes: “O que não mata, engorda. ”.
Aquelas pessoas resilientes e que experimentam crescimento pós-traumático têm a vantagem adicional de se tornarem ainda mais resilientes com o passar do tempo. Elas aprendem através de suas experiências anteriores como ser resilientes. Já sabem como reagir às situações e que no final das contas sabem que tudo passa.
Mas independentemente de qualquer coisa que se fale ou de qualquer estudo que seja feito, o fato imutável é que a resiliência é dura. Ninguém acorda desejando passar por dificuldades e ultrapassa-las. Todos prefeririam ter uma vida mais suave. Mas uma vida assim não é possível. Portanto, o melhor a fazer é não negar a vida como ela é e adquirir as ferramentas necessárias para navega-la. E a resiliência é uma ferramenta de primeira necessidade.
Quer queira quer não, a resiliência não é uniforme durante a nossa vida. A resiliência é feita de energia e essa energia não é distribuída uniformemente em todos os momentos da nossa vida. Certamente que temos mais energia e estamos menos cansados quando somos mais jovens. Também temos mais ilusões e conhecemos menos as dificuldades da vida quando jovens. Ou seja, não sabendo o tamanho do desafio, temos mais força de lutar e com isso até conseguimos alcançar coisas que aparentemente eram impossíveis ou muito difíceis. É o famoso “Não sabendo que era impossível, foi lá e fez.
Pessoas resilientes sabem que o sofrimento é parte da vida, que coisas ruins acontecem. E quando se tem expectativas de que coisas ruins acontecem, lidamos com muito mais naturalidade com as situações. Em vez de fugir, as encaramos. O segredo é não nos fazemos de vítimas e em vez de perguntar “Porque eu? ”, nos perguntar “Porque não eu? ”.
Outra caraterística muito comum às pessoas resilientes é que que elas conseguem escolher onde colocar sua atenção. Em especial, elas focam no que podem mudar e não costumam ficar remoendo em torno do mesmo problema, sem sair do lugar. Elas encaram os problemas de frente e quando eles são grandes, começam pequeno, mas encontram uma maneira de sair do lugar.
Faz parte da resiliência não se agarrar tanto às emoções negativas, focando mais nas positivas. A pessoa resiliente não menospreza os pontos negativos e ameaças, mas de alguma maneira elas conseguem focar no bom e no positivo. Isso é particularmente importante porque as emoções negativas, como ansiedade, tristeza, inveja e medo, funcionam como velcro para os seres humanos, enquanto as emoções positivas são como teflon, escorregadias e difíceis de aderir.
Ser resiliente significa você encarar os fatores de stress e não fugir deles. Suprimir os pensamentos negativos não funciona, porque quanto mais pensamos em suprimir um pensamento, mais pensamos nele.
Também é importante aprender com os erros e não evita-los, já que falhar não só é uma opção, como é praticamente um pré-requisito para se adquirir resiliência. Não sei se você já parou para pensar nisso, mas ninguém fica resiliente sem passar antes por momentos difíceis e se colocar à prova.
Se de um lado as coisas ruins que acontecem conosco viram memórias a partir das quais nós obtemos experiência e força para superar novos perigos e desafios, por outro lado não podemos deixar de aproveitar o que temos hoje ou o nosso futuro devido aos problemas e perdas do passado.
Um dos pontos mais cruciais que me ajudam a ser mais resiliência é a paz de espírito que vem da absoluta certeza de que as coisas que julgamos ruins ou negativas hoje quase sempre nos conduzem a coisas positivas no futuro. É só olha para o seu passado e lembrar de situações que pareciam ruins e que lhe fizeram sofrer e que olhando em retrospectiva ou não foram tão ruins ou lhe trouxeram algo de positivo. Por isso, quando estiver passando por um momento ruim, repleto de stress e preocupações, pergunte-se se existe alguma possibilidade disso se tornar algo positivo no futuro.
Um outro conceito que se conecta com a resiliência é o conceito de Flow do Mihaly Csikszentmihaly. E m um dos seus aspectos ele fala que o melhor ponto para se atingir o estado de Flow é quando os desafios são levemente superiores às nossas habilidades e nos fazem crescer. Claro que se os desafios são muito superiores às nossas habilidades estaremos mais propensos a ter crises de ansiedade e até burn out.
Um outro problema que eu conheço bem é a resiliência crônica. Qualquer pessoa precisa restaurar suas energias para voltar ao combate renovado. Um problema que eu tive em toda minha vida é que desde que iniciei minha atividade profissional foram raríssimos os períodos calmos e tranquilos. Na imensa maioria do tempo precisei lutar pela sobrevivência empresarial.
Claro que isso cobra um preço muito grande e não podemos nos acostumar a isso como eu acabei me acostumando, achando que a vida era assim. Mas isso não é normal e aconselho fortemente às pessoas que passem por períodos muito prolongados de stress que faça um turnaround, corte na raiz as causas e comece uma vida nova.
Com o passar dos anos, podemos tomar dois caminhos. De um lado, a nossa energia para enfrentar problemas tende a cair e não ser mais a mesma. Nesses casos, ficamos cansados e frágeis. Por outro lado, tendemos a adquirir experiência e a aprender como lidar com as situações. Já não ficamos tão assustados com o que nos acontece.
Espero com sinceridade que após ler esse texto e os demais que indiquei no início você esteja mais preparado para lidar com os inevitáveis momentos difíceis que a vida nos impõe. O conhecimento está disponível. Agora é a hora da atitude. A boa está com você.
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